quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Renato Lage: ‘É uma nojeira’

Carnavalesco do Salgueiro, vencedor do Tamborim de Ouro, não se conforma com segundo lugar

O DIA
Rio - Foi o quarto vice-campeonato nos últimos oito carnavais. Na quadra da Acadêmicos do Salgueiro, no Andaraí, onde mais de dois mil torcedores acompanharam a apuração das notas, houve espaço para frustração e promessa de um desfile ainda melhor no sábado das Campeãs. Tão logo foi decretado o título da Beija-Flor de Nilópolis — por uma diferença de quatro décimos — a multidão que torcia pela vitória se calou e demorou alguns segundos para aplaudir a performance da Vermelha e Branca da Grande Tijuca. Muitos cantaram em coro o samba deste ano, abafando algumas vaias. Inconformados, integrantes da alta cúpula da escola não pouparam críticas à vitória nilopolitana.
Emocionado, o carnavalesco Renato Lage não se conteve ao falar sobre o enredo vencedor. “Coroar um samba que versa sobre ditadura é uma nojeira. Enquanto trouxemos um pedaço da História brasileira para a Avenida, falando sobre as delícias da culinária mineira, vimos vencer uma escola que homenageou a Guiné Equatorial e reverenciou um ditador sanguinário”, disparou. Para fazer o enredo, a Beija-Flor teria recebido R$ 10 milhões do ditador Teodoro Obiang Nguema, que comanda o país há 32 anos. 
Salgueiro foi a melhor pela 5ª vez, de acordo com os internautas
Foto:  André Luiz Mello / Agência O Dia
Apesar do tom, a multidão não se conteve com a chegada da taça dada ao segundo colocado. Os que ficaram na quadra cantaram o hino da escola à capela. A presidente da agremiação, Regina Celi, chorou ao pisar no local e se limitou a prometer um desfile ainda mais bonito sábado. “Vocês vãos ver a força salgueirense”, afirmou. 
De acordo com Lage, o enredo de 2016 ainda não está selado. “Mas descarto fazer algo semelhante ao que fez a Beija-Flor este ano só pelo patrocínio. Tudo tem limite”, alfinetou. “Temos feito carnavais dignos de vitória, mas existem quesitos manipuláveis”, concluiu, quando questionado sobre a diferença de décimos que tem decretado os vice-campeonatos salgueirenses (em 2014, a escola perdeu por um décimo para a Unidos da Tijuca). 

Na quadra da agremiação, no Andaraí, a ansiedade dos torcedores
Foto:  Ernesto Carriço / Agência O Dia
Ao final da execução do samba, coube à aposentada Vera Neves, 74, resumir o espírito que deve permear a disputa. “Ano que vem, tem Carnaval de novo. A festa deve ser sinônimo de alegria, não de brigas”, afirmou.
Crítica nas redes sociais

Pelo jeito, a associação do enredo da Beija-Flor ao regime da Guiné Equatorial continuará por muito tempo na memória Vermelha e Branca. Não bastasse a contundência de Renato Lage, o presidente do Conselho deliberativo da escola, Renato Raposo usou as redes sociais para criticar a co-irmã.“Escolheram um quesito subjetivo pra caramba, Mestre-Sala e Porta-Bandeira, para começarem a canetar a escola. Viva o dinheiro de um país miserável, como é Guiné Equatorial, de um povo oprimido, sofrido. Viva o Brasil por assinar embaixo de tudo isso”, disparou.


    Nenhum comentário: