quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Martinho da Vila faz show com sambas-enredo para comemorar os 77 anos

Alheio a críticas, o bamba pede a Capitão Guimarães para promover nas rádios gênero a que dedica o novo espetáculo

CAIO BARBOSA
Rio - Entra ano, sai ano e um problema continua sem solução no Carnaval: a falta de sambas de enredo que fiquem na memória do folião. Sem uma carta na manga para resolver o problema, Martinho da Vila decidiu brincar com a situação e fará um show para comemorar seu aniversário de 77 anos — “muito bem vividos” —, amanhã, no Teatro Bradesco.
No repertório, todos os sambas que compôs para a sua Vila Isabel, entremeados com seus grandes sucessos fora do Carnaval. Entre os motivos citados pelo mestre para que os sambas das grandes escolas caiam no esquecimento não está na qualidade do que é composto.
E para reverter a ‘invisibilidade’ dos sambas, ele não está nem aí para discursos politicamente corretos e disse ter pedido ao bicheiro Capitão Guimarães, o todo-poderoso da Vila Isabel, para voltar a promover os sambas-enredo nas emissoras de rádio.
O cantor e compositor Martinho da Vila faz show para comemorar seus 77 anos em que canta sambas que compôs para a escola Vila Isabel
Foto:  Divulgação
“Falei com ele, ué (risos). Não adianta sair apenas matéria em jornal elogiando o samba, porque jornal não toca samba. Tem que tocar nas rádios”, defendeu. “Vencemos o Carnaval em 2013 com um samba que todos consideraram uma maravilha. Mas os sambas não tocam mais nas rádios e na televisão. Não são difundidos como antigamente. Para um samba tocar no rádio, hoje, é preciso fazer um projeto de marketing mirabolante, não apenas um bom samba. E se a música não toca em lugar nenhum, ninguém aprende”, lamenta.
Martinho admite que há, também, sambas pasteurizados, que servem para qualquer escola, fogem do própósito original, de contar o enredo que será apresentado pela agremiação.
“Tem samba que exalta a escola, a comunidade, a bateria e esquece do enredo. A intenção é mexer com o brio do componente. Não é o tipo de samba que eu gosto, mas ele funciona bem na quadra”, avalia.
Um exemplo disso vem da própria Vila Isabel. Para Martinho, o samba da escola não é um primor de composição, mas já conquistou a comunidade e vai conquistar a Sapucaí.
“É um samba que funciona. Mas temos sambas bons este ano. O da Imperatriz é ótimo. O da Viradouro, espetacular. Não sei se serve para disputar concurso porque são dois sambas do Luiz Carlos da Vila reeditados. Mas são lindos. Se a Vila Isabel sai com um samba desse, te garanto que é campeã”, brinca.
Cantor vai virar maestro
Titular absoluto no time dos grandes sambistas brasileiros, Martinho da Vila se prepara, aos 77 anos, para se tornar maestro. Não de música erudita, mas do povo. Um maestro popular.
Assim virá Martinho no desfile da Vila Isabel, quarta escola a pisar no Sambódromo no domingo de Carnaval. Ele será o grande destaque no último carro alegórico da escola, para fechar a apresentação com chave de ouro.
A Vila contará a história dos maestros brasileiros, na figura de Isaac Karabtchevsky, ex-diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira (de 1969 a 1994) e atual regente da Osquestra Petrobras Sinfônica.
“Fiquei muito feliz. Minha família toda virá numa ala em homenagem ao Tom Jobim. Eu virei nesse último carro, como maestro popular e com a batuta que foi usada pelo maestro Leonardo Bruno”, conta Martinho da Vila.
Leonardo Bruno e Martinho são parceiros desde 1988, ano em que a Vila conquistou o Carnaval com o enredo “Kizomba — Festa da Raça”. Foi ali que eles deram início ao premiado projeto ‘Concerto Negro’, que mostrou a influência da cultura negra na música erudita.

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