terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

João Pimentel: Previsões do passado e do futuro

Rio - Não, não tenho a menor ideia se o que estou publicando hoje vale para alguma coisa, se faz algum sentido, porque esta coluna eu escrevi na sexta-feira 13. Ou seja, nem sei se sobrevivi aos três primeiros dias de Carnaval.
— Não, Dona Lina, esta barba não é desta fantasia. Essa é a do Raulzito, com aquela camisa psicodélica. O que é psicodélica? Deixa pra lá. Não, este vestido e esta touca combinam é com aquele focinho de lobo. Por quê? Porque ele quer comer a Chapeuzinho Vermelho, não lembra?
Pois é, Dona Lina está dando uma geral nas minhas velhas fantasias. Mas como eu ia dizendo, não sei se sobrevivi até hoje às multidões descendentes dos entrudos e do Zé Pereira, que devia ser o chato original do Carnaval, tocando um surdo sem qualquer musicalidade. Ainda não sei se vou, no caso fui, ao Carmelitas, daqui a pouco. Amanhã, sábado passado, deveria estar no Carioca da Gema, domingo na Sapucaí, pela primeira vez sobre um carro alegórico, com a família e os amigos do Luiz Carlos da Vila.
Será que cantaram com vontade aquele hino maravilhoso? “O samba corre nas veias dessa pátria mãe gentil/ É preciso a atitude de assumir a negritude pra ser muito mais Brasil”.
E a minha Portela? Será que, com a torcida, com o prefeito, com o bom samba do Noca e tudo mais a favor, ela sairá finalmente do armário empoeirado da história? Espero, sinceramente, que tenha feito um bom desfile, e que amanhã seja declarada a grande campeã das escolas.
Se ontem eu fui ao Bloco de Segunda? Não sei, provavelmente já estava com aquela dor de garganta e aquela gripe que me perseguem no terceiro dia de Carnaval desde que envelheci, desde que me tornei um folião de segunda. Mas como estou comportado, devo ter ido.
Terça-feira Gorda é um dia estranho. A começar por ser gorda. Dizem que a expressão surgiu pelo fato de ser o último dia da festa do adeus à carne (Carnis Levale), antes do jejum da Quaresma pré-Páscoa. Tem um clima de domingo, de fim de festa, mesmo ainda sendo Carnaval. Mas acho mesmo que o gorda é pelos quilos a mais de cerveja, de espuma nojenta, de confetes, de suor e, por que não, de alegria que absorvemos nas ruas, bailes e na Sapucaí, isso pra quem pode.
Mas o adeus à carne carioca já entra há tempos pela Quaresma. E domingo é dia de mais blocos, de um megaevento na Praça Barão de Drummond, em Vila Isabel, comandado pela ótima Roberta Espinosa e, para mim, do Barangal, da turma que frequenta a barraca do Joel, em Ipanema.
São cerca de 50 pessoas que aproveitam o calçadão fechado para encerrar o Carnaval da melhor maneira: rindo de si mesmo, cantando piadas, com os homens de baianas e as mulheres de Chacrinha, e um carro de som que na realidade é uma lata de lixo laranja, dessas da Comlurb. Por fim, um banho de mar para lavar a alma e recomeçarmos a pensar na vida, porque o salão e as ruas já estarão vazias, e o Carnaval de 2015 será apenas uma fantasia de volta ao baú.
— Não, Dona Lina, isso não é uma corneta, é o ferrão do meu mosquito da dengue.

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