quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Folia sustentável e luxo dividem Sapucaí

Polêmica sobre a reciclagem de fantasias é discutida na Avenida e nas redes sociais

CARMEN LUCIA
Rio - Fantasias caríssimas, penas de faisão, com valores que chegam próximos ao de um carro popular, ou trajes feitos com materiais reciclados? O segundo dia de desfiles na Marquês de Sapucaí foi dividido entre musas e rainhas que aderiram à reutilização de materiais para seus figurinos e aquelas que ainda preferem gastar com o luxo. A polêmica invadiu até o Facebook, onde protetores dos animais protestavam contra a utilização de penas naturais.
Segunda escola da noite a desfilar, a Portela teve entre suas musas Sheron Menezzes. Ex-rainha de bateria da escola, a atriz fez questão de levantar a bandeira da reciclagem das fantasias. “Eu já faço isso há alguns anos. Tudo que consigo tirar da roupa e guardar, eu guardo. Pra mim, saber economizar é que é glamouroso.”
Juliana Alves na Império da Tijuca
Foto:  Alexandre Brum / Agência O Dia
Shayene Cesário, que também desfilou pela Portela, explicou que uma das melhores formas de poupar dinheiro é reaproveitando as penas de faisão. “A minha fantasia tem 700 penas de faisão branco. Se eu não tivesse usado as penas da roupa que desfilei em 2010, eu teria que investir algo próximo ao preço de um carro popular”, avalia. Patrícia Nery, rainha de bateria da Azul e Branca, complementa: “Não tenho a menor ideia do valor da fantasia, pois muitas peças são recicladas. Dinheiro não aceita desaforo. Reutilizo tudo que posso, principalmente as 1,4 mil penas de faisão. Isso é bom para a natureza.” 
Alexandre Louzada, carnavalesco da Portela, explicou que o dinheiro muitas vezes pode ser substituído pela criatividade. Nem tudo se resume a gastos financeiros. “Claro que incentivamos o reaproveitamento, mas a criatividade tem que ser usada sempre. Um exemplo disso é esse carro com mais de 145 mil latinhas de alumínio. É barato e fica lindo.”
Outra que defende a reutilização é Claudia Raia, que chamou mais atenção que a rainha de bateria da Beija-Flor, Raíssa de Oliveira. A atriz comemorou 30 anos de desfile na escola de Nilópolis e, desta vez, veio no chão, representando uma deusa africana. “Não sei dizer ao certo tudo o que foi reaproveitado na minha fantasia, mas posso dizer que apoio sem restrições esta causa. Uma fantasia artesanal tem o seu valor e o seu luxo”, disse Claudia Raia.
Mas, enquanto umas economizaram, outras preferiram ostentar. Dani Sperle, destaque da União da Ilha há 11 anos, contou que a sua produção foi toda comprada na Europa. “Minha fantasia vem representando o tique-taque do relógio. Então, ela tem um tapa-sexo de 2,4 cm que eu comprei lá fora, veio tudo da Europa e custou nove mil euros, cerca de R$ 29 mil.” Outra que não poupou foi Carla Prata, musa da escola da Ilha do Governador. “A fantasia toda foi avaliada em mais ou menos R$ 45 mil.”
Cris Vianna, da Imperatriz, não reciclou a fantasia
Foto:  João Laet / Agência O Dia
Isabel Fillardis, que desfilou com a mãe, Sônia, e a filha Analuz, é contra ostentar fantasias. “Não tenho paciência para essas pessoas que falam: ‘Meu Deus, a minha fantasia custou um milhão.’ Por que não reaproveitar? É mais do que uma questão financeira. As pessoas precisam pensar nisso, até mesmo para que o Carnaval continue”, avaliou ela, ao lado da rainha de bateria da Imperatriz, Cris Vianna. “Este ano, não conseguimos fazer uma fantasia com material reciclado, mas quero tentar algo do tipo no ano que vem”, contou Cris, que veio de rainha guerreira africana. 
Rainha de bateria da Unidos da Tijuca, Juliana Alves foi outra que não reciclou a fantasia, avaliada em R$ 80 mil. A roupa, com 85 mil cristais Swarovski e 800 penas de faisão albino, representava a Santa Fé. Ela disse que o traje combina com seu momento. “Sou muito religiosa. E, ultimamente, é a fé que me move.” Mas não foi o custo da fantasia, e sim o suposto sobrepeso da atriz, que causou polêmica. “Não ligo para esses comentários. Estou mais focada na saúde. Esta semana não me preocupei em emagrecer. Precisei de muita energia para desfilar.”

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