quarta-feira, 12 de março de 2014

Luis Pimentel: Ouvindo Dorina e lembrando de Luiz Carlos da Vila

Luis Pimentel: Ouvindo Dorina e lembrando de Luiz Carlos da Vila

A moça cantava com alegria, paixão e profunda intimidade com o repertório

O DIA
Rio - Tempos atrás, lancei um livrim de poemas chamado ‘As Miudezas da Velha’. Entre os amigos que foram ao lançamento, estava o cantor e compositor Luiz Carlos da Vila (1949-2008). Dias depois, durante um encontro no Carioca da Gema, ele me disse: “Suas miudezas moram em minha mesa de cabeceira.” Segurei a emoção e reagi com fingida naturalidade.
Quando conheci a cantora Dorina, em noite em que ela, Luiz Carlos e Mauro Diniz apresentavam um show chamado ‘Suburbanistas’, comentei com os amigos da mesa que a moça cantava com alegria, paixão e profunda intimidade com o repertório, a exemplo das intérpretes que sempre me encantaram (Aracy, Elizeth, Clementina, Elis...).
Luiz é um dos grandes criadores da música brasileira. Melodista de acordes inspiradíssimos — com subidas e descidas que lembram direitinho o seu jeito vertiginoso de compor e de cantar — e letras onde a poesia, eterna guardiã de tamarineiras no imaginário, tira sonhos do fogão. Dorina, cuja folha de serviços prestados à música brasileira já merece moldura, é uma cantora que se mostra mais segura, mais solta e mais envolvente a cada novo CD ou DVD que põe na praça.
Cantando feito “os passarinhos na manhã” do mestre que é uma de suas maiores admirações e inspirações no mundo do samba, a suburbana e suburbanista de sorriso e empolgação continentais nos apresenta o disco ‘Sambas de Luiz’ (Rob Digital), mais um trabalho onde Dorina mostra o zelo e apreço pelo que de melhor é feito em nosso cancioneiro; determinação que ela leva para os shows, entrevistas, iniciativas ou programas de rádio que produz e apresenta.
Quem gosta de boa música deve correr atrás, pois ali estão presentes as obras mais significativas do repertório de Luiz Carlos, a partir da combativa ‘Por um Dia de Graça’, composta para a escola de samba Quilombo, em 1980 (não emplacou na escola, mas ganhou as ruas, os palcos e o Brasil todo), passando por lindezas poéticas como ‘Doce Refúgio’, ‘Meu Canto’ e ‘Duas Saudades’. Participações nos instrumentos ou na produção de craques como Claudio Jorge, Alessandro Cardozo, Dudu Oliveira ou Charles da Costa ajudam Dorina a dar de maneira mais profissional possível o recado do poeta que encarou a vida com o necessário equilíbrio entre o profissionalismo e a loucura, a dispersão e a inspiração.
“O samba que desde a origem é arte/Das coisas boas da vida é parte”, diz um dos versos mais ricos de Luiz Carlos da Vila. Das coisas boas da MPB, a cantora Dorina é parte, essência, engenho e arte.

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