quarta-feira, 26 de março de 2014

Luis Pimentel: Dando um rolezinho pela cidade

Luis Pimentel: Dando um rolezinho pela cidade

'Viu as obras do Aleijadinho?', 'Vi! Que gênio! Aleijadinho é pouco, aquele homem é aleijadérrimo!'

O DIA
Luis Pimentel: Dando um rolezinho pela cidade
Foto:  Nei Lima / Agência O Dia
Rio - No Hospital do Andaraí, onde, segundo o Aldir Blanc, “tu entra cajá e sai caqui”. Depois de dois dias na fila, a paciente consegue falar com a recepcionista e recebe uma senha, para ser atendida daí a seis meses.
— Seis meses?! Até lá, eu já morri!!! — esbraveja.
E a recepcionista, bem prática:
— Neste caso, peça a alguém para telefonar desmarcando.
***
Depois de castigar as varizes e sacudir os braços, sem sucesso, para meia dúzia de ônibus urbanos em Botafogo, a anciã balança uma nota entre os dedos, simulando que vai pagar a passagem, que não depende da gratuidade a que tem direito. Só assim consegue embarcar num deles, que a levará até as imediações do Hospital dos Servidores.
Antes de guardar o dinheiro e exibir a carteirinha de idoso, pergunta ao motorista:
— O senhor tem mãe?
O insensível gagueja que sim.
Um brinde ao comentário final:
— Então, peça a Deus para que ela não chegue a ficar velha!
***
— Me dá um autógrafo! — diz o guri pro galã global, em frente ao Rio Sul.
— Pois não. Me dê um papel — diz o artista.
— Não tenho. Dá aqui mesmo, nesse papel de pão.
— Nesse papel, moleque? Todo sujo?!
— Faz mal, não. Quando chegar em casa, eu passo a limpo.
***
Duas peruas emergentes, no aniversário de uma cadela, na Barra:
— Acabei de chegar de Minas, visitei todas as cidades históricas.
— Viu as obras do Aleijadinho?
— Vi! Que gênio! Aleijadinho é pouco, aquele homem é aleijadérrimo!
***
Ponto de ônibus no Humaitá. Misto de mendigo e guardador de carros se aproxima de um engravatado e pede um dinheirinho:
— O senhor não tem vergonha? Um homem tão jovem, tão forte, tão disposto... Por que não vai arranjar um emprego? — berrou o sujeito.
E o outro, tranquilão:
— Peraí, meu amigo. Estou pedindo esmolas, e não conselho.
***
Amiga minha, dentista com consultório no Flamengo, é uma tremenda gozadora. Dia desses, recebeu um sujeito que queria porque queria arrancar um dente. Perguntou o preço.
— Trezentas pratas — ela respondeu.
— O que é isso, doutora? A senhora não leva nem dez minutos para arrancar um dente.
E a gozadora, alisando o boticão:
— Se o senhor fizer questão, posso arrancá­lo bem devagarinho.

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