sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Delegado aponta chefe do tráfico do Morro dos Macacos como mandante de resgate

Delegado aponta chefe do tráfico do Morro dos Macacos como mandante de resgate

Scooby Doo é um dos principais suspeitos de participar da tentativa de invasão do Fórum de Bangu

GABRIEL SABÓIA
Rio - O delegado da Divisão de Homicídios (DH), Rivaldo Barbosa, já identificou um dos criminosos acusados de participar da ação orquestrada para resgatar os bandidos que estavam prestando depoimento no Fórum de Bangu na noite desta quinta-feira. Ele aponta Leandro Nunes Botelho, chefe do tráfico do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, mais conhecido como Scooby, como o mandante da tentativa de invasão. Na ocasião, uma criança e um sargento da PM foram mortos durante troca de tiros e fuga dos criminosos.
Nos fundos do fórum, uma camareira que estava em um ônibus e um PM também ficaram feridos e foram encaminhados para o Hospital Estadual Albert Schweitzer, onde encontram-se estáveis.  O Disque-Denúncia aumentou a recompensa para R$ 5 mil para a pessoa que indicar o paradeiro do traficante.
Imagens de câmeras do sistema interno de segurança do fórum e no entorno da região estão sendo analisadas para identificar todos os traficantes que participaram da ação. Os agentes da especializada também estão ouvindo os suspeitos detidos durante ação realizada, na manhã desta sexta-feira, por policiais militares em várias comunidades da Zona Oeste. 
Comoção em sepultamento de criança de 8 anos
Por volta das 11h desta sexta-feira, o corpo do menino Kayo da Silva Costa, de 8 anos, foi sepultado no Cemitério do Murundu, em Realengo, Zona Oeste do Rio. Familiares e amigos inconformados com a perda do pequeno jogador de futsal prestaram homenagens à vítima.
Corpo de garoto de 8 anos é sepultado no Cemitério do Murundu
Foto:  Alessandro Costa / Agência O Dia
A criança foi baleada na cabeça durante troca de tiros entre policiais militares e criminosos em frente ao Fórum de Bangu. O menino seguia para a escolinha de futsal na região, mas foi interrompido no meio do caminho.
Muito abalado, o avô Juamir disse que prefere não acreditar que o batalhão da área não tenha sido avisado de que havia criminosos de alta periculosidade no fórum. A informação ainda não foi confirmada, mas muitos moradores afirmam que não havia policiamento ostensivo no entorno.
"Interromperam o sonho do meu neto. Ele sonhava em ser jogador profissional do Vasco. Íamos dar um churrasco nesse fim de semana, porque sabíamos que ele seria campeão no torneio que ele participaria no próximo sábado", contou.
O treinador de Kayo, Luiz Manuel, afirmou que a vítima "era um menino alegre e aplicado aos treinos". Ele acrescentou que o garoto sonhava ser jogador profissional do Vasco. Ainda de acordo com o treinador da categoria sub 9, da qual a criança fazia parte, todos os integrantes do grupo estavam treinando quando receberam a notícia do falecimento do amigo. As crianças ficaram inconsoláveis.
Após o enterro, moradores fazem uma passeata na região. “Queremos proteção do Estado, porque temos um fórum que recebe criminosos todo dia”, cobrou o morador Carlos Oliveira.
Crítica à Secretaria de Segurança
Durante o velório, a tia de Kayo, que trabalha como balconista próximo onde ocorreu o tiroteio, criticou a falta de bom senso da Secretaria de Segurança. "Com tempo de tanta tecnologia e videoconferências, para quê levar um criminoso para o fórum?", questionou muito abalada.
Os familiares do menino chegaram no fim da noite de quinta-feira no Instituto Médico Legal, na Leopoldina, ainda em estado de choque. O avô da criança, Joanir Faria do Rosário, de 42 anos, foi o único que conseguiu falar com os jornalistas.
"Foi uma tragédia. A ficha ainda não caiu para ninguém. O sonho dele era jogar no Vasco e ganhar uma chuteira nova de Natal. A gente ia comprar a chuteira dele amanhã, de surpresa, para o jogo dele no fim de semana", contou Juamir.
Amigos postaram homenagens ao beque parado. Um deles foi o treinador Sérgio Kazú Bangu, que mostrou foto do menino com tarja de luto no Facebook. A postagem recebeu mais de 600 comentários e foi compartilhada por mais de mil internautas em pouco mais de uma hora.
Enterro de criança de 8 anos é marcado por comoção de familiares e amigos
Foto:  Alessandro Costa / Agência O Dia
Invasão frustrada
Por volta das 17h30 um grupo, com cerca de 10 bandidos armados com fuzis, chegou em dois carros e invadiu o fórum procurando pela carceragem. PMs reagiram e houve intenso tiroteio. Durante a fuga, os criminosos continuaram atirando. Nos fundos do prédio, Maria José da Silveira Rodrigues, de 54 anos, estava em um ônibus da linha 738 (Bangu-Marechal Hermes), quando foi baleada na barriga. Na ação, o sargento Oliveira, que trabalhava na segurança do fórum, foi baleado ao entrar no prédio para alertar outros PMs sobre a tentativa de invasão e acabou não resistindo. O corpo dele será sepultado às 16h desta sexta-feira, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste.
O grupo pretendia resgatar Alexandre Bandeira de Melo, o Piolho, e Vanderlan Ramos da Silva, o Chocolate, apontados, respectivamente, como chefes do tráfico do Morro do Dezoito, em Água Santa, e da Favela Gogó da Ema, em Belford Roxo. Eles estavam sendo julgados no Fórum de Bangu. Segundo a PM, nenhum dos 23 réus que estavam no local foi resgatado. Os comparsas fugiram.
Marcas de tiro no local onde ocorreu a tentativa de invasão dos criminosos
Foto:  Carlos Moraes / Agência O Dia
Bangu em estado de choque
No fórum, servidores se trancaram dentro dos cartórios junto com o público. “Eram muitos tiros. Todo mundo ficou em pânico. Quando a situação acalmou, havia marcas nas paredes e sangue nos corredores”, contou um funcionário do tribunal, que teve o carro roubado. O dono de um estacionamento foi feito refém pelo bando e liberado na Avenida Brasil. “Só pensava na família”.
A camareira Maria José da Silveira Rodrigues, atingida na barriga quando estava no ônibus, tem sete filhos e não corre risco de vida. “Ela só tinha um mês de carteira assinada”, disse Rosângela Fernandes, sobrinha da vítima. Até à noite desta quinta-feira, nenhum dos criminosos havia sido localizado pela PM, que reforçou o policiamento na região e na Favela Vila Vintém por tempo indeterminado.
Vídeo:  Tiroteio em Bangu deixa uma criança e um PM mortos
O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, solicitou, logo após a tragédia, a transferência para presídios federais de Alexandre de Melo, o Piolho, e Vanderlan Ramos da Silva, o Chocolate, alvos da tentativa de resgate. Chefe do tráfico nos morros do Dezoito e Saçu, em Água Santa. Piolho tem 40 anos e foi preso em abril, em Jacarepaguá. Contra ele havia seis mandados de prisão por homicídio, tráfico, associação para o tráfico, roubo e formação de quadrilha.
'Piolho' era um dos criminosos que estava em audiência no Fórum de Bangu. Ação de bandidos
Foto:  Divulgação
Segundo a polícia, ele possui perfil violento e teria enterrado várias vítimas no alto do Saçu. Piolho cumpria pena no Instituto Penal Ismael Pereira Sirieiro, em Niterói, onde ganhou benefício para trabalhar fora e não voltou mais, em 2010. Acabou recapturado em abril passado.
Por sua vez, Chocolate, de 30 anos, estaria à frente de quadrilha de traficantes com atuação no Gogó da Ema, Jardim Bom Pastor e Guachá, todas em Belford Roxo. Segundo a polícia, Chocolate esteve por trás da guerra do tráfico no Morro do Jorge Turco, em Rocha Miranda, durante o ano passado.
Ações se repetem na saída de fóruns
Nos últimos cinco meses, pelo menos outras duas ações de bandidos para libertar comparsas levaram pânico às ruas de Niterói. Em junho, um grupo de marginais armados de fuzis trocou tiros com agentes da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), na Alameda São Boaventura, quando o ônibus do órgão com 20 detentos passava pela via.
Os presos estavam sendo transportados do Fórum de São Gonçalo, na Região Metropolitana, para o Complexo Penitenciário de Bangu. Agentes rechaçaram a tentativa de resgate e o grupo fugiu em seguida. Em maio, o agente penitenciário Antonio Pereira foi morto a tiro após ser baleado nas costas durante uma tentativa de resgate de presos, na Rodovia Niterói-Manilha, na altura de São Gonçalo.
Colaboraram: Caio Barbosa, Leandro Resende, Maria Inez Magalhães e Maria Luisa Barros
Edição: Bianca Lobianco



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