sábado, 19 de outubro de 2013

Marcus Tavares: Crise de confiança

Marcus Tavares: Crise de confiança

Creio que estamos vivendo uma grande era de crise de confiança entre pessoas, profissionais e instituições

O DIA
Rio - Creio que estamos vivendo uma grande era de crise de confiança entre pessoas, profissionais e instituições. Acredito que o termo, bastante utilizado pela área econômica para descrever períodos de instabilidade, nos ajuda a entender boa parte dos problemas e desafios do nosso dia a dia. Façamos um teste: em quem e no que realmente acreditamos, confiamos?
No plano espiritual, já se foi o tempo em que a religião ocupava lugar de destaque no ranking de confiabilidade. São tantos questionamentos e entraves entre a razão e a fé que a confiança numa força suprema é posta continuamente em dúvida. No plano terreno, as relações humanas estão desgastadas. Não acreditamos e muito menos confiamos uns nos outros. Há sempre um pé atrás, uma cautela, um distanciamento. No que tange a instituições e corporações, constituídas de seres humanos, a confiabilidade parece ser ainda menor. Acreditamos nos governos? Nos governantes? Nas empresas? Nos médicos? Na polícia? Na imprensa? Na escola? Nos advogados? Na justiça? O Índice de Confiança Social, que mede a confiança dos brasileiros nas instituições e nos grupos sociais, vem diminuindo ano a ano. O que é perfeitamente compreendido.
Penso que o sistema econômico capitalista contribui fortemente com a sustentação desta crise, uma vez que estabelece modelo de vida e exalta o individualismo exacerbado, a busca pela satisfação pessoal aqui e agora, que passa necessariamente pelo consumo, reconhecimento e acúmulo de riqueza. Cria-se um cenário de disputa, de competição, muitas vezes, e cada vez mais, sem regras, éticas e valores. As consequências são inevitáveis: desrespeito, desigualdade e violência.
Neste contexto, me diga, como alimentar a confiança no outro? Reverter este quadro talvez leve décadas, séculos. Ou seja, quem sabe, impossível. O fato é que se trata de uma realidade que tende a ficar, pelo andar da carruagem, cada vez mais caótica e incontrolável. E o que é pior: para muitos parece que tudo está na mais perfeita ordem. Pare e perceba: não, não está.

Professor e jornalista especializado em Educação e Mídia

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