sábado, 19 de outubro de 2013

Jaguar: Fala, Vinicius!

Jaguar: Fala, Vinicius!

Aproveitando a onda dos cem anos do Poetinha, republico parte do texto de apresentação da entrevista que o ‘Pasquim’ fez com Chico Buarque há 43 anos

O DIA
Rio - Aproveitando a onda dos cem anos do Poetinha (detesto este diminutivo para o grande poeta), republico parte do texto de apresentação da entrevista que o ‘Pasquim’ fez com Chico Buarque há 43 anos: “Preferiria muito não estar fazendo nada, mas esses rapazes, o Tarso especialmente, já se vêm tornando maçantes com a insistência para que eu contribua com o lirismo do meu verbo, para o aumento da tiragem deste jornaleco. Como voltei a ficar pobre e estou precisando pagar minha conta no Antonio’s, resolvi aceder. Pediu-me o Tarso, muito aflito, que apresentasse a entrevista do meu também pobre compadre Chico Buarque, vítima atual dos chacais do jornalismo e da televisão.
Vá lá que seja. O Tarso chegou mesmo a propor-me, de olho súplice, um aumento de salário avant-la-lettre, que eu naturalmente aceitei, considerando o fato de que a minha atual situação financeira está mais para fezes que para musse de chocolate. Estou considerando seriamente a possibilidade de optar definitivamente pela pobreza, bem como, antecipando-me à era do matriarcado, que se anuncia, e à qual o Tarso e eu damos o nosso completo apoio, trocar meu sobrenome pelo da mulher amada e passar a chamar-me, doravante, Vinicius Rezende de Deus, pois filho de Deus sempre fui, e dos mais aquinhoados por sua infinita bondade.
De fato, depois que voltei a ficar pobre, nunca sua divina mão agiu com maior misericórdia. Por isso que estou, como diria o Caetaninho, sem lenço e sem documento, a divina providência soprou no ouvido dos amigos que me são mais caros que não me deixassem ficar sem teto e sem alimento, e é assim que essa querida Tônia Carrero, certamente uma das mulheres mais belas (por dentro e por fora) do século, abriu-me as portas do apartamentinho de seu filho Cecil Thiré, onde no momento assisto, e meu velho amigo Rubem Braga escancarou-me a passagem marítima de sua bela cobertura para esses dias de meditação e ócio não remunerado.
Não estou querendo insinuar nada, mas como o tradicional orgulho dos Moraes não me permite, na presente circunstância, aceitar donativos em dinheiro, permito-me sugerir que qualquer gesto de altruísmo seja manifestado em caixas, ou mesmo unidades, de uísque escocês, de preferência com rótulo de importação, e das marcas Buchanan’s, Old Rarity, Black Label ou Chivas Regal, que poderão ser enviadas à redação deste hebdomadário. E agora dá-lhe, Chico!” Um primor de molecagem carioca.
    Tags: Jaguar , colunista

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