sábado, 17 de agosto de 2013

Leda Nagle: Vidas: Provisórias e definitivas

Leda Nagle: Vidas: Provisórias e definitivas

Que barato incrível é este que a gente não precisa se explicar? Basta começar a conversar e tudo fica com a mesma força...

O DIA
Rio - Adoro amigo antigo. Do tipo que faz parte da vida da gente há décadas, que compartilhou com a gente o nosso caminho. Posso até não encontrar sempre, não falar por longo período, mas minha memória afetiva não se engana, nem se esquece e me dá um prazer mais que especial este tipo de encontro. Já vinha assim desde o último final de semana, quando encontrei amigas de sempre. Antes, fui me desfazer de uns guardados e me encantei com velhas fotografias, amareladas pelo tempo, guardadas desde sempre, numa velha caixa de papelão. Até a caixa parecia de outra encarnação.
Era uma caixa de nectarina, uma fruta que também me remete ao passado, a outro tempo, a um amigo especial. Quem é que compra nectarina hoje em dia? O conteúdo da caixa era velho e tudo era muito bom. De repente me encontrei comigo mesma, trinta anos atrás. Eu muito jovem ali, olhando pra mim, trinta anos depois. De cara lavada, cabelo muito mais cheio, sem química alguma, camiseta despojada, jeito de menina, olhar brilhante, cercada de amigos. Amigos de ontem. Amigos que já não estão mais por aqui, amigos que reencontrei, como que por encanto, no lançamento do livro ‘Vidas Provisórias’, de meu compadre, jornalista e escritor, Edney Silvestre. A fila era longa, a amizade também. Que prazer especial neste reencontro. Pode parecer piegas, pode parecer coisa de gente mais velha mas, na verdade, parece que foi ontem.
E foi. Como fiquei estes anos todos sem me encontrar com estas pessoas que fizeram parte da minha vida de maneira tão forte, tão intensa? Que barato incrível é este que a gente não precisa se explicar? Basta começar a conversar e tudo fica com a mesma força de quando nos víamos todo dia, de quando fazíamos juntas um telejornal diário, tempo de uma tensão produtiva e de trabalho criativo. De um tempo que passou sem passar porque deixou viva a memória do afeto. Esta é a chave: o afeto. Na velha caixa de fruta as fotos de outras pessoas, de outros momentos, me levaram a outros tempos. O novo livro do Edney também fala de afetos, de amores, viaja por histórias de outros momentos. 
Também ele, no livro, fala disto: de lembranças. Como nós ali na fila. A ficção pode até não ter nada a ver com a nossa realidade. Será? Quem garante? No livro dele, nas vidas de Paulo e Barbara, seuspersonagens principais, o passado também é revisitado, a vida é retomada. Em ‘Vidas Provisórias’ também me reencontro com histórias minhas, de outros “gostares”. De outros amigos antigos. Igualmente fortes. Totalmente diferentes umas e outras. Mas a chave é a mesma. O bem-querer. Nas vidas provisórias e nas vidas definitivas.
    Tags: Leda Nagle , colunista

    Nenhum comentário: