sábado, 17 de agosto de 2013

Hamilton Werneck: Umbanda pedagógica

Hamilton Werneck: Umbanda pedagógica

Se Exu tirou-lhe as letras, a influência da umbanda deveria ser muito forte naquela mente

O DIA
Rio - Recebo muitas consultas sobre questões pedagógicas. Certa feita, uma professora, preocupada com uma aluna adulta incapaz de se alfabetizar, frequentadora das aulas da Educação de Jovens e Adultos, apresentou-me o problema. Claro, os conselhos são os mesmos: que sejam encontradas razões que causam tais transtornos. Um deles foi que a professora procurasse ouvir a aluna para verificar como transcorreu a alfabetização quando ela cursava esta série na idade certa. Tal foi a surpresa da professora quando ouviu uma causa inusitada: “Exu tirou-me as letras quando eu tinha 9 anos e, portanto, não será possível aprender a ler ou escrever.” 
Fiquei perplexo, porque até Exu passava a ser culpado pela existência de analfabetos. Pensei muito até chegar a uma conclusão sobre o tipo de orientação a ser oferecida à aluna, já com 35 anos.
Geralmente os psicólogos aconselham que os problemas sejam solucionados como que fazendo o videoteipe do fato: voltando-se ao tempo dos problemas e reescrevendo a história. E foi trabalhando nessa ótica que surgiu a ideia.
Se Exu tirou-lhe as letras, a influência da umbanda deveria ser muito forte naquela mente. Então, a solução seria retornar ao terreiro e lá buscar a transformação. Os Orixás — e existem vários — atuam em campos diferentes; Xangô, que tem um santo católico correspondente, que é São Jerônimo, encarrega-se de devolver as letras. Vejam que este santo é apresentado com um leão ao lado, certamente afirmando que as letras são tão poderosas que domam até as feras.
A professora seguiu esta orientação, passou-a para sua aluna, que cumpriu à risca. Xangô devolveu-lhe as letras, e tivemos mais uma pessoa alfabetizada na Educação de Jovens e Adultos!

Pedagogo e escritor

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