sábado, 6 de julho de 2013

Hamilton Werneck: A alfabetização e a cegueira

Hamilton Werneck: A alfabetização e a cegueira

Podemos constatar que as antigas normalistas sabiam preparar uma aula e alfabetizar uma criança

O DIA
Rio - Se formos a um instituto de cegos, saberemos que, para aprender braile, é preciso estudar três anos. Quando nos deparamos com a alfabetização dos que não são portadores dessa necessidade especial, a cegueira, também constatamos o mesmo tempo e, muitos, na verdade, não conseguem ter o domínio da escrita.
Quais seriam as razões desse descalabro? Podemos constatar que as antigas normalistas sabiam preparar uma aula e alfabetizar uma criança. Hoje, muita gente conclui a Licenciatura em Pedagogia e não sabe desempenhar nenhuma dessas tarefas. A constatação de recente pesquisa dando conta da elevação dos resultados do Ceará na Prova Brasil é bom sinal de que o estado está investindo em Educação. As escolas técnicas de Ensino Médio apresentam recursos que poucas escolas particulares do Nordeste conseguem oferecer.
Outra constatação é a do desempenho deficitário das crianças mais pobres. Por que tal fato ocorre? Pela absoluta falta de apoio depois do tempo da escola, o que é oferecido às crianças de classes sociais mais elevadas. A questão é que não podemos descartar os pobres como muitos desejam porque o Brasil não conseguiria chegar aos seus objetivos sem eles. Reprovado algum é deportado!
Os resultados não mudam porque a mentalidade é a mesma: aquela que defende a escola excludente. No passado, excluir significava enviar o jovem para a enxada. Hoje é diferente. Quem não aprende fica sem rumo e acaba carregado pelos demais habitantes do país.
Assim, para superar esses problemas de aprendizado, sobretudo nos primeiros anos da escola, necessitamos de investimentos para que as crianças aprendam a ler num tempo inferior ao dos portadores de cegueira. Acentue-se que uma criança até os 8 anos deve aprender a ler porque, depois, ela deve ler para aprender.
Tais investimentos e melhorias que possibilitem um salto qualitativo estão na dependência da aprovação do 2º Plano Nacional da Educação, enviado ao Congresso em 2010 e ainda aguardando votação. De verbas, o Ministério dispõe. Se tirarmos a venda dos olhos dos nossos representantes, as crianças serão beneficiadas.
Hamilton Werneck é pedagogo e escritor


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