sexta-feira, 21 de junho de 2013

Não ficou fácil para ninguém

Não ficou fácil para ninguém

Movimento de massa causa prejuízos a quem está no poder, mas não ajuda oposição

ROZANE MONTEIRO
Rio - Quanto mais brasileiros insatisfeitos tomam as ruas, mais claro fica que os políticos vão ter que descobrir uma nova forma de dialogar com a população. No perde-e-ganha do novo cenário político que se desenha agora, é natural concluir que o desgaste maior há de ser o da presidenta Dilma Rousseff — ex-guerrilheira já torturada por militares e que agora vive o dilema de talvez precisar do Exército para conter o povo. Mas há quem afirme que isso não ajuda a oposição, se os do contra não entenderem o recado das ruas. Em miúdos: não ficou fácil para ninguém.
O presidente regional do PT no Rio, Jorge Florêncio, faz um mea-culpa: “Há uma insatisfação com os políticos. Ganha a democracia, mas perde todo mundo. Nós, da esquerda, descuidamos de ouvir mais as pessoas, que não se sentem representadas pelo modelo político que está aí. O governo Lula (nos dois mandatos) valorizou o salário mínimo e tirou milhões da pobreza, mas essa juventude não tem lembrança disso. Eles têm o direito de querer mais, de ter uma nova utopia.” Para Florêncio, Dilma e os políticos com mandato não poderão achar que, depois desse movimento “histórico”, tudo voltará a “ficar igual”: “A resposta vai ter que vir do governo.”
O presidente regional do PMDB no Rio, Jorge Picciani, concorda que a democracia sai vitoriosa, mas aproveita para criticar o PT.
“Perdem políticos e toda a elite conservadora brasileira e perde o PT, que já foi, na oposição, depositário deste clamor e perdeu pelo conservadorismo e muita má gestão. Perde quem defende a impunidade”, avalia Picciani. Segundo ele, seu próprio partido não sai ileso: “Perdem lideranças nacionais do PMDB, como os senadores Renan Calheiros e José Sarney, que tornam o Congresso frágil e afastado dos anseios populares.”
Dilma desistiu de ir para o Japão no domingo.
O desafio de se reinventar para 2014
O deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) responde rápido: “Quem perde são os governos que nos últimos anos romperam o diálogo com a sociedade.” Ele inclui na conta a presidenta e as administrações do PMDB do Estado do Rio e da capital fluminense. Para Rodrigo, irão tirar proveito desta movimentação aqueles que, na corrida presidencial de 2014, conseguirem mostrar aos brasileiros que os representam.
Outro deputado federal de oposição, Otavio Leite (PSDB-RJ), concorda e diz que a “situação da Dilma” é a “mais delicada”, especialmente por ela ainda não ter falado à nação. “Por outro lado, toda a classe política tem que abrir mais canais de democracia com o povo, especialmente os jovens, pelo mundo digital”, arremata.
Presidente da Câmara antecipa fim de viagem oficial à Rússia com deputados
Enquanto os brasileiros tomam as ruas no Brasil, um grupo de deputados federais estava, tranquilamente, em viagem oficial à Rússia — antigo centro do bloco comunista do Leste Europeu.
Na segunda-feira, Laurita Arruda, mulher do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), postou no Facebook uma foto do grupo — a informação é do jornal ‘Folha de S. Paulo’. Mas ontem, segundo a Agência Brasil, Henrique Eduardo Alves decidiu antecipar a volta ao Brasil para acompanhar de perto as manifestações. Ainda segundo a Agência Brasil, enquanto esteve fora, o presidente da Câmara esteve em contato com seu substituto na Casa e com o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). O líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), embarcou de volta com Henrique Eduardo Alves.
Também foram à Rússia os líderes do PMDB, Eduardo Cunha (RJ); do PPS, Rubens Bueno (PR); e do DEM, Ronaldo Caiado (GO); além dos deputados Bruno Araújo (PSDB-PR), Fábio Ramalho (PV-MG) e Felipe Maia (DEM-RN).
Segundo a assessoria da Câmara, os deputados viajaram a convite do parlamento russo, que pagou as despesas do grupo — à exceção de suas esposas, que tiveram a viagem bancadas pelos maridos.





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