sexta-feira, 28 de junho de 2013

Jaguar: Pasquim 44

Jaguar: Pasquim 44

Na quarta-feira, 26, o ‘Pasquim’ faria 44 anos.

O DIA
Rio - Na quarta-feira, 26, o ‘Pasquim’ faria 44 anos. Em junho de 1969, um bando de cartunistas, jornalistas e até um artista gráfico (Carlos Prósperi, que bolou o projeto gráfico) conspirou numa sala da Rua do Rezende para lançar um projeto que tinha tudo para dar errado: um jornal sacaneando o governo militar. Mesmo assim, fez um sucesso retumbante e se manteve durante 22 anos, aos trancos (processos) e barrancos (prisões). Por ironia do destino, foi a pique com a abertura política (quando qualquer um podia falar mal dos milicos sem ser preso).
Contrariando a tradição, o rato de bordo, o Sig, foi o único que não abandonou o navio e afundou com ele. Mesmo assim, o jornaleco atrevido durou mais que a ditadura. Quando o ‘Pasquim’ fez 40 anos, Millôr registrou, antes de virar banco no Arpoador: “A primeira capa do ‘Pasquim’ foi com a efígie de Ibrahim Sued. Ibrahim, pra quem não conhece a história remota do Brasil, foi o grande precursor de Lula. Defendia, com grande ignorância, a ignorância e o vale-tudo, em sua coluna no jornal ‘O Globo’. Eruditamente analfabeto, conseguia escrever uma coluna diária no jornal, na verdade escrita por jornalistas depois notáveis, como Elio Gaspari e Ricardo Boechat. Ibrahim só entrava com o analfabetismo. Que fazia o mais extraordinário sucesso. Chegou a ter 84% de aprovação.
Com esta primeira capa, iniciávamos o grande movimento contraincultura. (...) Não, as capas, como o pessoal do ‘Pasquim’, como o uísque do ‘Pasquim’, não tinham ideologia. Isto é, tínhamos uma extraordinária, rara, pretensiosa ideologia, a do ‘Não estamos nem aí!’. Não era conosco. Não tínhamos nada a ver com solução dos problemas da pobreza, com a nojenta utilização que os ricos fazem do dinheiro, com as mulheres fazendo indignados ataques aos homens e se apropriando indevidamente de termos como: ‘Não me enche o saco!’ (...) Na verdade, influenciávamos o Brasil inteiro, porque não vivíamos no Brasil, vivíamos no Rio de Janeiro, ou melhor, em Ipanema. (Para depois explicar que nenhum de nós morava em Ipanema) E o bar, o glorioso Flag onde nos reuníamos, cheio de mulheres lindas (vamos manter o mito e a inveja), ficava nos fundos do Othon, em Copacabana.” Como escreveu Sérgio Augusto: “Mas seus efeitos, suas consequências, sua progênie, estão por aí. Isso exige uma celebração.”
Celebremos, pois. E ergo a minha taça, cheia de Erdinger sem álcool. E se tivéssemos que fazer mais um número do ‘Pasquim’ eu sugeriria para frase de capa: “Somos contra o passe-livre. Queremos ser pagos para andar de ônibus.”


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