Rio -  O bom compositor é semente da roda. Quem rega é o público, e o sucesso vem como a mágica das canções que produzem catarse inesperada a partir de cavaco, pandeiro e tantã. Osamba comandado há dois meses pelo músico Wanderley Monteiro, às sextas-feiras, no Beco do Rato — boteco dos bons, dedicado ao gênero na ‘periferia’ da Lapa —, se firma como um dos melhores eventos musicais da cidade, reduto de um público interessado em ouvir e cantar o samba bem feito, que segue a linhagem dos grandes autores.
Wanderley Monteiro, ao centro, toca cavaquinho e canta no Beco do Rato com percussionistas como Célio Brito (à esquerda) e Rafael Chaves | Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
Wanderley Monteiro, ao centro, toca cavaquinho e canta no Beco do Rato com percussionistas como Célio Brito (à esquerda) e Rafael Chaves | Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
“Aprendi o que sei na roda, ela é a mãe dos músicos. Onde você coloca o povo para cantar e fixar as novidades, renova o repertório”, diz Wanderlei, autor de ‘hinos’ das rodas de samba cariocas como ‘Água de Chuva no Mar’ (parceria com Carlos Caetano e Gerson Gomes).
Funcionário do Banco do Brasil, larga o expediente para circular com desenvoltura do bar à quadra: há três anos consecutivos vence e assina, com seus parceiros, os sambas de enredo da Portela.
“Cheguei a seis finais e ganhei quatro, mas ainda tenho muito a aprender na escola”, diz, modesto, o autor do sucesso ‘Vida de Compositor’, que fala justamente da tristeza de um samba derrotado na final. No Beco do Rato, a partir das 22h, além do repertório que passeia por João Nogueira, Nei Lopes, Wilson Batista, Noel Rosa, Roberto Ribeiro e outros grandes, há momentos de comunhão nas letras de Wanderley, como as palmas do público durante ‘Somos Nós’. Consagrada no Samba do Trabalhador, do Clube Renascença, a música tem refrão que pede: “Quando um samba enfeitar a voz, aplaudam, pois o samba somos nós”.
“Não há como prever um sucesso, quem rege é o público”, afirma o músico, cantor de voz encorpada que também mostra nas mesas criações recentes como ‘Chico e Nonô’, narrando as desventuras de dois trambiqueiros do mundo do samba, faixa do CD ‘Consagração’, lançado em 2012.