Rio -  Como o amor resiste à prisão? Ele enfrenta a distância forçada pelo presídio e suas grades? O sentimento vira coisa sem graça porque o encontro passa a ser com dia marcado, um carinho para ser exercitado dentro daquele período de tempo? Ou os abraços e beijos com hora exata para começar e terminar são o que apimenta a relação? Há fetiche no amor de grades? Já fantasiou com visitas íntimas dentro de segurança máxima?
Assunto fascinante, e muito me intriga a paciência de companheiras que durante anos seguem fiéis ao seu amor-bandido, visitando-os. Será que existe amor de homens cujas mulheres estão presas e eles seguem apaixonados e fiéis a elas? Qual será a estatística comparativa entre homens e mulheres que visitam semanalmente seus amores. E qual será o recorde de insistência?
Todo este redemoinho pipocou na minha cabeça durante a festa do Tamborim de Ouro, que o jornal O DIA entrega anualmente aos melhores do Carnaval. Chamado ao palco pelo divino Cabeção, entreguei junto com Aziz Filho o belo troféu para minha amiga e gostosa musa, Vivi Araújo. E, quando falei do amor dela por seu bofe preso, senti o frisson da plateia. E ela reclamou rindo: “Você me desconcentrou...”.
Interessante ser este um assunto proibido, ainda que seja para sempre citado como um dos motivos que a fazem ser tão amada pelo povão. A que visitava o preso sempre, a que passava perrengue sem desistir. A mulher de fibra, de carne e osso, comprou a briga do companheiro e pagou pra ver onde tudo aquilo vai dar. Imaginem o rebuliço de uma Viviane dentro de um presídio? Nitroglicerina pura, provavelmente as fotos dela nua nas revistas deveriam estar pregadas em muitas paredes das celas. O mito desejado estaria na jaula ao lado.
Amar é passar por cima de dificuldades para encontrar o ser amado. E esta situação da prisão deve ser uma das maiores provas de um grande amor, respeito e admiração pelo outro. Não importa a merda que você fez, a Justiça é quem vai te julgar, e eu, tua mulher, seguirei ao teu lado porque concluí que errar é humano, e eu vou estar sempre ao teu lado, mesmo no xilindró.
Não há assunto a ser evitado, para sempre desconcertarei a plateia tocando em assuntos periclitantes. E, mesmo que ao sair da prisão o Belo tenha se apaixonado por Gracyanne, e, ainda que valorizasse o feito de Vivi, não pudesse permanecer na outra prisão, umcasamento sem amor, para mim só resta resolver a última pendência desta história-tabu: onde está o primeiro troféu Tamborim de Ouro que Vivi deixou na ex-casa, e que nunca lhe foi devolvido?