Thiago Mendonça aprendeu a tocar e cantar para viver Renato Russo nos cinemas
POR FABIO DOBBS
Rio - Durante quatro meses, Thiago Mendonça mudou de nome e passou a ser Renato. Assim ele era chamado na frente e atrás das câmeras do filme ‘Somos Tão Jovens’, que entra em cartaz no início de maio, retratando na tela a vida de Renato Russo, antes de ele explodir com sua Legião Urbana. E para ser o músico, Thiago partiu do zero. Ele não sabia cantar nem tocar. “A minha relação anterior com música era de ouvinte”, assume o ator.
A turma do Planalto | Foto: Divulgação
Os encontros no estúdio e no quarto de hotel, a convivência diária e a total integração foram fundamentais para que ‘Somos Tão Jovem’ desse certo. Ninguém escapou, nem mesmo o câmera Will Etchebehere, conhecido por ser especialista em filmar cenas de movimento. “O Will foi fundamental. Tinha horas em que ele grudava em mim para filmar sob o meu ponto de vista e tínhamos até que respirar juntos. Era um organismo só”, exagera Thiago.
E dessa forma foram filmadas as cenas dos shows, nas quais o diretor fez questão de não utilizar playback. “A ideia foi do Carlos (Trilha), que usou as mesmas técnicas de gravar shows para DVDs. Fiquei temeroso, perguntei para ele se os atores teriam que tocar tão bem quanto eles. E escutei como resposta: ‘Não, eles vão ter que tocar tão mal quanto eles’”, diverte-se Antonio Carlos.
Assim foram retratadas as primeiras apresentações de Renato Russo, de sua banda Aborto Elétrico, do Capital Inicial e de toda uma geração de músicos brasilienses que ficou conhecida como a Turma da Colina. “Eu queria fazer um filme onde ninguém vai dormir. Um filme jovem. Quando me encontrei com a mãe do Renato, dona Carminha, e falei para ela que ia filmar, ouvi: ‘Só não me faça o seguinte filme: de um roqueiro, homossexual, drogado que morre de Aids no final. Esse filme eu já vi e se chama Cazuza.’ Naquele momento, senti que estávamos em sintonia”, conta o diretor.
O Drama que ficou de fora
Com a ideia de fazer um filme jovem e para cima, Antonio Carlos da Fontoura assume que deixou de lado todo o sofrimento passado por Renato Russo durante sua adolescência. O músico sofria de uma doença degenerativa chamada epfisiólise, em que acontece o deslocamento do osso do fêmur da bacia. “Até filmei cenas nas quais desenvolvia mais isso, mas não era bom mostrar esse sofrimento. Ele tomando morfina, em cima de uma cadeira de rodas. Queria chegar logo na parte do rock”, diz o diretor, que reconhece ter sido nesse período em que Renato Russo forjou sua personalidade. “Foram oito meses na cadeira de rodas e duas operações, porque o pino que colocaram na primeira atravessou o nervo ciático. O Renato ficou enclausurado e começou a se alimentar de música e de literatura. Em cima dessa cama é que nasce o mito”, admite Antonio Carlos.
Após percorrer toda a adolescência do cantor, o diretor sentiu falta de imagens do próprio Renato e resolveu resgatar um show dos primórdios do Legião Urbana. “Pesquisamos muito, porque só estávamos encontrando shows caretas, gravados para TV. Até que encontramos no YouTube imagens de uma apresentação em Volta Redonda (RJ). Fomos atrás e descobrimos que foram feitas pelo Arthur Fontes, que hoje faz parte da Conspiração Filmes. É uma das poucas imagens em que Renato está sorrindo no palco, sendo ele mesmo”, conta Antonio Carlos.
O longa traduz esse mito que alimenta fãs de diferentes idades até hoje. “Minha neta, de 12 anos, gosta do Renato Russo. O fenômeno, que percebi desde o início, é que ele se tornou algo especial para os jovens que estão em fase de transição da adolescência para a idade adulta”, analisa Antonio Carlos.
“Estamos em 2013, Renato partiu em 96, mas como ele diz muito ainda. Quando comecei a cantar ‘Que País é Esse?’, tive vontade de montar um palanque. Ele já deu o verbo, cabe a nós dar a voz. Que essas palavras e tudo o que ele nos deu permaneçam”, espera Thiago Mendonça.
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