Rio -  O nome pode — e até deve — parecer totalmente desconhecido aos menores de 40 anos de idade. Os mais velhos, contudo, ou mesmo os jovens de hoje que preservam a memória da música popular ou do Brasil, sabem muito bem quem foi Carlos Galhardo.
E por que estaria eu — remitente batalhador pela lembrança dos que deixaram legados preciosos — a falar dele agora? Falo, e com orgulho, do Carlos Galhardo porque ele iluminou o cenário artístico do Brasil por seguidas décadas, que vão dos anos 30 aos 70. Ou seja, por quase meio século Galhardo foi considerado importantíssimo intérprete do nosso cancioneiro popular.
E por que, justamente agora, saudá-lo com esta ênfase, este calor, esta reverência? Porque nesta próxima quarta-feira, dia 24, ele faria 100 anos. Ora, o centenário do cantor passaria — ou deve mesmo passar — olimpicamente ignorado por este país tão injusto em relação à memória, tão ausente em lustrar mortos ilustres que são despejados no mais reles esquecimento público, tão avaro no acarinhar datas que passam quase sempre despercebidas, sem um registro sequer.
Para que vocês tenham uma ideia mais precisa: Galhardo foi o cantor que mais vendeu discos no Brasil, dos anos 30 aos 50, só superado por Francisco Alves. E — o mais significativo — foi considerado, na Era do Rádio, um dos quatro grandes: os outros três eram Orlando Silva, Silvio Caldas e o já citado Francisco Alves, o Rei da Voz. Aliás, sua importância foi tão proclamada que ele era conhecido como ‘O Cantor que Dispensa Adjetivos’, ou ‘O Rei da Valsa’.
Galhardo — que alguns críticos mal-humorados chegaram à audácia de dizer que cantava com um ovo na boca — foi um criador de sucessos imorredouros, que começaram em 1933 com a celebérrima canção de natal ‘Boas Festas’, lançando também Assis Valente para o estrelato dos compositores da Época de Ouro.
Atento à defesa dos direitos autorais, Carlos Galhardo foi não apenas um dos fundadores da Socinpro, mas seu presidente por duas décadas. Presidente diligente, presente e capaz. Ou seja, grande cantor, grande brasileiro e grande batalhador pelos direitos dos seus colegas.
Ricardo Cravo Albin é presidente do Instituto Cultural Cravo Albin