Rio -  Renato Gaúcho lembra de momentos muito especiais no Maracanã, como a emoção de sua primeira partida no estádio, pelo Grêmio, e a chance de jogar ao lado do ídolo Zico. As derrotas, como jogador ou técnico, também não são esquecidas. Mas o dia 25 de junho de 1995 foi um dos mais marcantes de sua vitoriosa carreira. Naquela data, ao desviar um chute de Aílton, aos 41 minutos do segundo tempo, ele fez o famoso gol de barriga que deu o título estadual ao Fluminense sobre o Flamengo (3 a 2), depois de nove anos de jejum dos tricolores. Um feito que é lembrado até hoje e faz Renato ser parado nas ruas por torcedores dos dois times.
Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
Gol de barriga está na história do Fla-Flu e do Maraca | Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia
O DIA: Você teve uma carreira longa e vitoriosa, mas aquele gol de barriga foi marcante. Qual foi a importância dele para você e como isso influencia até hoje na sua vida?

Renato: Eu sei que eu sou idolatrado e xingado ao mesmo tempo por causa desse gol. Joguei alguns anos no Flamengo, fui ídolo da torcida. Aí, fui para o Fluminense. No Flamengo, eu ganhei títulos. No Fluminense, eu ganhei um título. Então, os tricolores quando me veem querem fazer foto, botar a mão na barriga, agradecer. A torcida do Fluminense me idolatra. A torcida do Flamengo me quer bem, mas fala: ‘Poxa, você fez aquele gol de barriga na gente’. Mas o que ele representa não tem nem palavras para dizer. Um título não tem preço. Principalmente da maneira como foi, nos minutos que foram, para um clube que fazia nove anos que não conquistava. É uma felicidade muito grande. Não tem como definir com palavras. É uma alegria.

O que representa o Maracanã para você?

O Maracanã representa muita coisa porque, para mim, ele continua sendo o maior e mais importante palco do mundo. E eu sei que eu fiz história lá na minha profissão, ganhando títulos. Tive derrotas também. Mas eu me sinto orgulhoso de ter jogado no maior estádio do mundo e ter dado voltas olímpicas.

Como jogador, qual foi o seu grande momento no estádio, além daquele gol de barriga?

Vários. A Copa América de 1989, a despedida do Zico, que eu me orgulho até hoje. Já tinha jogado com ele na Seleção e no Flamengo. Participar da despedida dele, no Maracanã, é outra coisa que não tem palavras. Ter sido campeão brasileiro com ele, em 1987, pelo Flamengo; ganhar uma Taça Guanabara pelo Flamengo lá também; e esse título de 1995 pelo Fluminense foram coisas que me marcaram muito.

Em 1987 você foi campeão brasileiro no Maracanã ao lado do seu ídolo Zico. O quanto especial foi esse momento?

É uma consagração da carreira: jogar no maior palco do futebol mundial, ao lado do meu ídolo, ser campeão com ele, ter participado da festa de despedida com ele num Maracanã lotado... É presenciar o nascimento de um filho. É por aí. É uma emoção muito grande.

Você falou de derrotas que sofreu também no Maracanã. Tem algum momento que você gostaria de esquecer?

Não tem como esquecer. O grande homem tem que saber ganhar e saber perder também. Não seria eu, Renato Gaúcho, que iria disputar tudo e ganhar tudo. Esse homem não existe. Esse time não existe. A vida é feita de derrotas e vitórias. Eu tenho derrotas lá também: aquela final de 1992, entre Flamengo e Botafogo; uma final do Campeonato Carioca, em que eu já era treinador do Fluminense, em 2003. Perdi a Copa do Brasil (em 2006). Nós estávamos embalados, aí parou um mês por causa da Copa do Mundo, eu era treinador do Vasco e, na volta, nós perdemos a final para o Flamengo. Perdi uma Taça Guanabara nos pênaltis, com o Vasco (em 2007, o Vasco foi eliminado nas semifinais do primeiro turno do Campeonato Estadual pelo Flamengo).

A mais triste delas foi como técnico do Fluminense contra a LDU, pela Libertadores, em 2008?

Eu não queria chegar nela, mas já que chegou... Essa foi a maior de todas mesmo. Foi a maior derrota que eu tive dentro do Maracanã. Fora das quatro linhas, mas foi, sim. Até porque nós não merecíamos ter perdido. E as maiores vitórias, sem dúvida, foram os títulos.

Qual torcida mexeu mais com você: Flamengo, Fluminense ou Botafogo?

Todas elas. Eu me sinto orgulhoso de ter jogado em três grandes clubes do Rio, ter sido ídolo nos três, e no Vasco ter sido treinador e ter sido ídolo da torcida também. Isso é muito difícil, quase impossível, um jogador conquistar todas as torcidas jogando no mesmo estado, principalmente se tratando dos quatro grandes do Rio. Onde eu trabalhei sempre fui muito bem aceito e virei ídolo da torcida. De repente, eu consegui isso por não ser carioca, por ser gaúcho. E sempre fui profissional, como sou agora como treinador. Cada clube tem sua história, a sua torcida e o seu momento especial. Mas eu me senti bem, em casa, nos quatro grandes em que eu trabalhei.

A estreia no Maracanã foi pelo Grêmio, contra o Fluminense, em 1982. Você lembra como você se sentiu ao ser chamado para entrar no jogo, já no segundo tempo?

Já entrei no Maracanã e comecei ali a acordar do meu sonho. Meu grande sonho era jogar lá. Eu estava há um ano no Grêmio, fui para os juniores e aí me chamaram para jogar algumas partidas no profissional, inclusive essa. Entrei no jogo me sentindo praticamente um cego no tiroteio. Estava no Maracanã, eu tinha 19 anos... Foi uma emoção muito grande.

Você acredita que o novo Maracanã, que será reaberto no próximo sábado, terá a mesma essência do antigo estádio?

Não. Para mim, jamais. A minha história é no Maracanã antigo. O nome continua. Mas as grandes histórias, não só a minha, mas a de todos os jogadores, ficarão no Maracanã antigo. Só leva agora o nome. Pelo menos na minha concepção. A partir do Maracanã novo, teremos outros jogadores que farão novas histórias.

Qual a sua expectativa em relação ao desempenho do Brasil na Copa de 2014? Acredita que a Seleção chegará à final para jogar no Maracanã?

Lógico que, como brasileiro, eu vou torcer muito para que o Brasil ganhe a Copa do Mundo. Ninguém chega, faltando praticamente um ano e meio para a Copa do Mundo, com 100% do time pronto. Mas o Brasil teria que ter 70% a 80% do time pronto. Mas você vê que em várias posições ainda há dúvidas de quem vai jogar. O Brasil perdeu tempo fazendo experiências.

Tem algum jogador que você acha que mereça uma chance?

Aí não cabe a mim. Cabe ao Felipão porque cada treinador tem o seu pensamento, as suas ideias, e ele tem que ser respeitado.

Quem você acha que possa vir a brilhar se o Brasil chegar à final da Copa no Maracanã?

Eu não falo em final. Tem que começar desde que iniciar a Copa do Mundo. Não pode pensar: ‘Eu vou brilhar na final’. Para chegar lá, há vários degraus, vários espinhos, vários caminhos a serem percorridos. Se você puder jogar bem e ser campeão, ótimo. Mas o importante é dar a volta olímpica. Na história, vai ficar lá: ‘Brasil campeão’. Não vai dizer se você jogou bem ou mal. O importante é o título. Quem vai brilhar? Eu levo muita fé no Neymar. Tem tudo para fazer uma grande Copa do Mundo. Acho que ele amadureceu muito e tem quase mais um ano e meio para chegar no auge na Copa do Mundo, em idade e em experiência.