Rio -  Depois de uma longa temporada subindo ao palco vestido de maneira sóbria — o terno do show "Beijo Bandido", que ele vem apresentando desde 2008 —, Ney Matogrosso volta a surgir com roupas provocantes diante do público.

A turnê "Atento aos Sinais", que estreou em fevereiro em Juiz de Fora (MG) — no ano em que o cantor completa 40 anos de carreira, que começou com o grupo Secos & Molhados — chega ao Rio no fim de semana, sábado e domingo no Vivo Rio.
Ney Matogrosso no apartamento onde mora desde 1995, no Leblon | Foto: João Laet / Agência O Dia
Ney Matogrosso no apartamento onde mora desde 1995, no Leblon | Foto: João Laet / Agência O Dia
“Não tem nada por acaso ou por engano, é um figurino pensado”, conta Ney. A euforia do público, é claro, é maior — e o novo show tem direito até a um strip: “Mas é muito discreto. Eu troco aroupa, mas já estou com outra por baixo”.

E ainda tem mais provocação. “Eu desço numa escada que dá na plateia e fico me exibindo ali”, ri. O jogo causa efeito no público. “Um dia desses, eu estava cantando uma música do Itamar (Assumpção) que tem um refrão, ‘beije-me’ (‘Isso Não Vai Ficar Assim’), que eu repito dez vezes. Estava sentado na escada, de frente para a plateia, e vi uma mulher. Ela veio e eu pensei: ‘Ela vai me jogar no chão.’ Aí eu deitei no palco e ela começou a me beijar pelas costas”, lembra ele.
No Secos & Molhados, em 1973 | Foto: Arquivo pessoal
No Secos & Molhados, em 1973 | Foto: Arquivo pessoal
Símbolo sexual de homens e mulheres, Ney nem sempre foi confiante assim. “Adolescente, eu não tinha coragem de trocar a camisa na frente de ninguém. Vivia com as mãos no bolso, porque achava horrorosas. Eu me achava horrível. Aí, com 17 anos, fui para o exército e tive que ficar nu na frente de todo mundo. Para a minha surpresa, quando tirei a roupa, ninguém viu o monstro que eu via. Foi ali que a coisa começou a se resolver dentro da minha cabeça”, lembra. “Ali foi meu primeiro palco, né?”, brinca.

A sexualidade também só se resolveu quando ele realizou o desejo de se relacionar com homens. E, mesmo depois, continuou transando com mulheres. “Por que não? Não tenho um impedimento técnico”, diz.
Com figurino de ‘Atento aos Sinais’ | Foto: Marcia Hack / Divulgação
Com figurino de ‘Atento aos Sinais’ | Foto: Marcia Hack / Divulgação
“A única vez que meu pai falou sobre isso comigo foi quando viu que tinha assunto de mulher à minha volta. Ele disse: ‘Isso está errado. Você tem que se definir.’ Eu disse: ‘Não, eu tenho que aproveitar tudo o que a vida me oferece.’ Eu gostava dos dois. Transei com muitas mulheres e muitos homens”.

"Vivi tempo suficiente para realizar todas as fantasias"

Com 71 anos (que ele está longe de aparentar), Ney Matogrosso garante que já fez tudo o que queria.

“Já vivi tempo suficiente para ter realizado todas as coisas que passaram pela minha cabeça, as minhas fantasias. Experimentei todas as drogas. Odiei cocaína, por exemplo. Gostei de outras. Mas não preciso de nada, nunca fui no morro comprar maconha. Sou a favor da legalização de tudo, menos crack. Defendo a liberdade absoluta e total”, diz.

“Das coisas que me passaram pela cabeça, a única que não fiz foi ir nessas casas de swing. Tinha curiosidade, mas não interesse”, revela.