Rio -  O Ministério Público (MP) instaurou inquérito contra um piloto da Polícia Civil, atualmente lotado na Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), que teria aplicado um golpe contra cerca de 20 pessoas que se matricularam num curso de aviação.

Além de não completar as aulas compradas pelos alunos e sumido com o dinheiro já pago — estimado em cerca de R$ 130 mil —, o piloto da tropa de elite da Civil Ronaldo Ney Barbosa Mendes, 60 anos, teria oferecido treinamento numa aeronave sem homologação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para instrução.

Com isso, os alunos que chegaram a fazer aulas de voo no helicóptero, modelo Robinson 22, prefixo PT-HFI, não conseguiram lançá-las na Caderneta Individual de Voo (CIV) — onde são anotados registros de voo.

O treinamento foi ministrado no Clube CEU — Centro Esportivo de Ultraleve —, na Rua Aberlardo Bueno, em Jacarepaguá, em 2010, por um outro piloto, que foi contratado por Ronaldo Ney. Ao policial da Core cabia a parte de vender o curso e receber ospagamentos.

O caso somente veio à tona agora porque o grupo lesado temia o fato de Ronaldo ser policial.

“Todo mundo tinha medo dele. As pessoas diziam que ele mostrava suas armas, e isso intimidava”, afirmou o advogado Ricardo Buzelin, 39, um dos alunos do curso. Ele e o irmão, também policial, compraram 50 horas de voo. Cada hora foi vendida a R$ 600 — prejuízo que chega a R$ 30 mil.

“Paguei parte em dinheiro e a outra, em cheque. Chegamos a voar 20 horas, mas não adiantou pra nada, porque a Anac não reconhece. Ainda o procuramos várias vezes. Ele fez uma reunião e prometeu que iria devolver o dinheiro. Pedimos, inclusive, que primeiramente fosse pago a um aluno que tinha problemas financeiros. Ele falou que faria isso, mas, em seguida, sumiu do clube”, afirmou Buzelin.

Segundo o advogado, que assina a notícia-crime recebida ontem pelo MP, há informações de que uma senhora chegou a perder R$ 60 mil, referente a 100 aulas de voo compradas para o neto.

Na denúncia, no entanto, são citados outros valores de alunos que tiveram prejuízo: R$ 7.540; R$ 3.380; R$ 9.815; R$ 7.150; R$ 5.850 e R$ 2.665.

"Meu pai está sendo alvo de perseguição"

A promotora Christiane Monnerat, da 19ª Promotoria de Investigações Penais, disse que os alunos lesados serão ouvidos até a próxima semana. Segundo ela, que foi ao clube para obter mais informações, o policial se tornou sócio do local já com intenção de agir de má-fé.

“Isso caracteriza estelionato. No caso, vários, porque muitas pessoas foram lesadas”, afirmou a promotora. O filho do piloto da Core, Ronaldo Ney Junior, afirmou que trata-se de uma armação contra o pai.

“Isso não existe. Meu pai estava tentando ajudar uma pessoa que estava montando uma escola de aviação. Os senhores pagaram ao dono do helicóptero, que, se não me engano, chama-se Marcos. Meu pai está sendo alvo de perseguição ”, explicou o filho.