Rio -  A extensão a empregados domésticos de todos os direitos trabalhistas é mais um passo para acabar com a escravidão que ainda perdura no Brasil. Apesar da importância histórica e simbólica da Lei Áurea, ela não acabou com a escravidão, pois, se impediu juridicamente a propriedade de pessoas por outras, não alterou as relações de trabalho escravocratas. Os trabalhadores continuaram submetidos a jornadas desumanas e condições degradantes.
O primeiro grande passo para alterar as relações de exploração desumana no Brasil foi dado mesmo a 1º de maio de 1943, quando o presidente Getúlio Vargas assinou a Lei 5.452 e criou a Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT. Ao estabelecer jornada máxima, descanso semanal e férias remuneradas, representou uma mudança radical nas condições de vida dos trabalhadores.
Mas, se representou grande avanço para os trabalhadores do Brasil, sobretudo nos centros urbanos, a CLT não conseguiu acabar com as situações semelhantes à escravidão. Até hoje, no campo e nas cidades, há exemplos de trabalhadores em condições desumanas, como o descoberto no início do mês em hotel de Santa Teresa.
E, 70 anos depois da edição da CLT, a situação dos empregados e empregadas domésticas era um cancro nas relações trabalhistas. E que deixava claro que, pelo menos para parte da população, a divisão entre os da casa grande e os da senzala era como questão de direito divino.
As contestações à extensão dos direitos previstos na lei trabalhista aos que trabalham em casa de família revelam a hipocrisia de parte da sociedade que se apresenta como democrática, moderna e progressista, mas desde que a igualdade para todos não chegue à cozinha. Sem trocadilhos.
Jornalista, editor do caderno Baixada do DIA e da coluna O DIA no Grande Rio