domingo, 28 de abril de 2013

‘Não é um namoro, é uma convivência amorosa’



28 abr

‘Não é um namoro, é uma convivência amorosa’

SE VOCÊ É COMO ESTE COLUNISTA que tinha o pensamento limitado de que Cleo Pires é apenas uma talentosa atriz, filha da maior intérprete deste país, com belas curvas e sensualidade à flor da pele, vai se surpreender ao ler a entrevista deste domingo.
Cleo é uma jovem com conteúdo que se mostra engajada em projetos sociais e aproveita as férias para ir à África para conhecer e desenvolver um projeto que leva água às escolas.
Tamanha profundidade faz com que ela defina de maneira diferente sua relação com o ator Rômulo Arantes Neto. E explica, de maneira complicada, o fim de seu casamento. Tente entender um pouco do que se passa na cabeça de Cleo Pires.
Faça um balanço da Bianca, de ‘Salve Jorge’…
Acho que a novela me proporcionou um mergulho nas minhas raízes. Entrei em contato com muita coisa que estava desacordada em mim.
Dá um exemplo.
A Bianca me remeteu muito à minha infância, quando as coisas eram mais puras, mais essenciais e mais claras para mim. Ao longo do tempo, a vida vai camuflando muita coisa, não sei se por proteção. A Bianca me deu mais força para encarar os meus medos.
Ela é destemida?
É, sim. Ela se joga no que acredita e acredita nas coisas que sente. Com essa personagem, eu me senti voltando pra casa, para o lugar onde eu deveria estar o tempo inteiro.
Você já fez terapia?
Fiz. Dos 17 aos 22 anos.
E essas suas cenas dançando no bar? É você mesma?
Sou eu, sim. Mas até os meus amigos duvidavam. Eu dizia: “Vocês não estavam vendo minhas tatuagens, minhas pintas?” (risos).
Você fez muitas aulas?
Muitas, mas esse movimento de barriga eu já tinha, fazia muito isso quando era criança. O que peguei mais foi a técnica, que não era tão desafiadora pra mim. O mais difícil foi o movimento dos braços.
O que tem o braço?
Tem uma coisa de o cotovelo estar para cima, o ombro estar para baixo, tem que fazer um ajuste ali. É bem difícil e onde eu mais me esforço.
E isso despertou um lado muito sensual da Bianca.
A dança expressa coisas que muitas vezes as palavras não expressam. Coisas que não são racionais, e a sensualidade não é racional. É um encontro com forças interiores.
Você sentiu repercussão dessas danças junto ao público?
Muita gente veio falar comigo. Claro que falta muito pra ficar muito bom, mas, por mais que haja críticas, eu consigo aceitar e ver que há coisas boas. Fiz tanto esforço que gosto do que vejo no ar.
Você já vai dizer sim para a próxima novela da Gloria?
Não sei se é ela que me escolhe, se é o diretor, mas acho que ela gosta do meu trabalho, sim. A gente não tem tanta relação, conversamos poucas vezes, mais no início da novela. Eu queria fazer a dança da espada, ela preferiu que eu fizesse a dança dos véus…
Por que você queria a dança das espadas?
Gosto do significado da espada na dança, essa coisa da batalha, da guerra. Encaro muitas coisas na vida como batalha. Tem também o fato de ser um objeto fálico. E eu adoro armas brancas, tenho uma coleção em casa. Quanto à Bianca, ela é guerreira e a espada fala muito sobre ela. É um elemento muito masculino, mas que na dança ganha sensualidade.
Que atração é essa por armas brancas?
É coisa de criança, eu tenho um primo, o Daniel, que era meu ídolo e ele era louco por armas brancas. Hoje, ele é instrutor de krav-magá.
Você tem mesmo uma coleção de espadas?
Tenho uma espada samurai, espadas francesas, filipinas. Eu gosto.
Quantas tatuagens você tem?
Nove ou dez, não sei bem.
Fazer tatuagens também é de infância?
Minha primeira tatuagem foi aos 16 anos. Acho que a tatuagem tem um lado tribal, um simbolismo forte de gravar na pele. Ao mesmo tempo que sou uma pessoa mutável, tenho um compromisso fiel com as coisas nas quais acredito, e essas tatuagens contam a minha história.
Tem alguma (tatuagem) que você acha que já não tem a ver contigo?
Ah, algumas eu acho que faria diferente, mas na época elas foram representativas, não consigo descartá-las.
Que personagem você sonha fazer?
Adoraria fazer, por exemplo, a personagem da Juliette Lewis no filme ‘Assassinos por Natureza’.
Antigamente, você não falava tanto com a imprensa. Hoje é diferente.
Muito diferente, mas acho que é normal. Eu tinha medo de me sentir invadida, não entendia tudo o que estava em volta da profissão que eu amo. Acho que a experiência me ajudou a me colocar melhor diante dessas coisas que vêm junto com a carreira.
Você acha que ter posado para a ‘Playboy’ ajudou nesse processo?
Acho que não. A ‘Playboy’ tem a ver com algo que eu queria expressar naquele momento, foi uma vontade minha de colocar pra fora algo latente.
E você não tem mais essa vontade?
Essa específica passou, mas há coisas que me levaram a ter essa vontade que ainda estão dentro de mim. Aquela pessoa ainda está aqui dentro, mas talvez não queira se manifestar da mesma forma.
Você tem a sua ‘Playboy’?
Eles me mandaram vários exemplares, mas fui distribuindo e não tenho nenhum.
Você aceita perguntas sobre vida pessoal?
Acho que sim (risos).
Então, como é que está o namoro com o Rômulo Arantes Neto?
Não é um namoro, é uma convivência amorosa. Acho que já fiz tantas coisas por pressão externa, achando que o rótulo ia dar alguma segurança… Hoje, o mais importante é que um saiba do sentimento do outro e estejam juntos, é isso o que a gente está fazendo.
E como é sua relação hoje com o João Vicente, seu ex-marido?
É amigável, mas distante. Não nos falamos sempre, até porque trilhamos caminhos muito diferentes, mas tenho muito carinho por ele e acho que ele tem muito por mim.
Você falou de convivência amorosa quando falei de namoro. E com o João?
Nós éramos casados, eu amava muito o João e sempre tive uma cabeça mais libertária, eu queria viver os processos pra gente chegar numa coisa nossa. O João tinha uma cabeça mais tradicional, então a gente acabou dando um nó. Com o Rômulo, acho que a gente está fazendo do nosso jeito e não da maneira que é para mostrar aos outros.
Os boatos em relação ao Domingos Montagner te incomodaram?
Não me incomodaram, não me ligo muito com essa realidade. Uma pessoa ou outra que me manda essas notícias.
E por que você evitou ser fotografada abraçada a ele no Fashion Rio?
Isso não é verdade, eu adoro o Domingos.
Mas a notícia estava na Globo.com!
Você acredita em tudo que lê?
Eu acredito, porque eu também escrevo.
Tenho uma relação de confiança com o Domingos. As pessoas criam muitas coisas sobre a minha vida. Se soubessem como ela é…
Ia perder o encanto?
Acho que ia. (risos)
Fala do projeto em Araras.
Estive em Araras há uns três anos, me apaixonei pelo lugar, comprei uma casa lá, que está em reforma, e decidi que seria uma casa sustentável. Achei que ainda era pouco, porque via as ruas muito sujas ali perto, cheiro de esgoto, ratos, e num lugar tão lindo! Consegui parceiros para realizar um projeto, o Jovens Agentes Ambientais, que despertasse as pessoas que moram lá para uma conscientização e até o senso de poder cobrar do poder público.
O que eles fazem?
É uma plataforma online onde esses jovens, depois de visitarem os locais, depositam as informações num banco de dados. Mais à frente, a gente vai usar essas informações com os moradores.
Estou surpreso, não conhecia esse lado da Cleo Pires…
Isso me tira da minha vidinha, me dá a sensação de que o mundo é muito maior do que o lugar onde eu vivo. E é um processo de transformação tanto das pessoas quanto da minha vida. Não é só colocar o dinheiro ali e pronto. É acompanhar, se transformar com aquilo.
Seria uma afronta que uma pessoa engajada como você recebesse um convite para ser rainha de bateria?
Mas por que afronta? A rainha de bateria costuma ter um trabalho com a comunidade que ela representa. Uma coisa não diminui nem cancela a outra. Quanto mais riqueza sua alma puder expressar, melhor.
O que você vai fazer depois de ‘Salve Jorge’?
Vou viajar para Paris e para Cabo Verde, na África. Depois, volto e começo a me preparar para um filme do diretor Tomas Portella. Vou fazer uma policial, só penso nisso.
E por que Cabo Verde?
Tenho um amigo que é muito meu parceiro e ele quer fazer um projeto de levar água para as escolas. Eu disse a ele que primeiro precisava conhecer, viver o problema ali, ver como as coisas acontecem, então estou indo.
Poucas pessoas conhecem esse lado de Cleo Pires?
As pessoas que convivem comigo sabem. São coisas que me motivam muito, não tenho nenhum problema em falar sobre essas coisas.
Postado por: Leo Dias às 12:10 am :: Nenhum comentário

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