Moacyr Luz: Inspirações
No fim da Perimetral estávamos os três com os versos finais em alto volume repetindo: “Sofia! Sofia!”
Meus mestres João Nogueira e Paulo Cesar Pinheiro no belo samba ‘O Poder da Criação’ vaticinam “ninguém faz samba só porque prefere”. A música nasce feito uma semente esquecida no jardim: quando menos se espera, desabrocha.
Lembro de uma tarde a toa na vida, eu e meu parceiro Aldir Blanc hipnotizados com os peixes num aquário caseiro. Pareciam namorar, evoluções na água límpida, um balé submerso, corte e sedução De repente, surge uma frase dita pelo nosso poeta tijucano “ela é de peixes, eu sou de aquário”, a faísca necessária pra incendiar a inspiração. Virou bolero e foi gravada por duas divas da música brasileira, Nana Caymmi e Leni Andrade.
Do nada, uma frase escapa do meu inconsciente:- Estranhou o quê? Preto pode ter o mesmo que você! - O corpo treme, os versos debulham feito pétalas e sai um samba que hoje se destaca no Samba do Trabalhador.
Não sou egoísta. Diferentes caminhos chegam a criação. Sempre fui intrigado com a batata. Quem teria insistido no cozimento do tubérculo antes de perder o canino em duras mordidas primitivas? Quem descascou o primeiro abacaxi, quem abriu a noz, a ostra, o mexilhão na encosta da pedra?
Eu acredito na intervenção divina.
Eu acredito na intervenção divina.
A maçã na cabeça do Einstein, a rã à doré da Taberna Dom Rodrigues, a piada que se espalha feito gripe, até a música que nasce sorrateira na madrugada e hoje é luz, na boca do povo. Tudo é um estalo.
Botequim cheio, um franzino rapaz acena pro balcão:
— Seu garçom, faça o favor de trazer depressa uma boa média que não seja requentada...
Ao seu lado, um amigo exaltado:
— Ô Noel, esse troço dá samba!!
— Seu garçom, faça o favor de trazer depressa uma boa média que não seja requentada...
Ao seu lado, um amigo exaltado:
— Ô Noel, esse troço dá samba!!
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