Rio -  Segundo historiadores, o índio goitacás era alto, forte, exímio nadador e andava completamente nu. Baseada nessas informações, a Comissão de Cultura e Artes de Campos esculpiu a encomenda que Anthony Garotinho havia feito para exibir o silvícola numa peça de cinco metros na entrada da maravilhosa cidade.
Mas, antes, ordenou: “Cubram-lhe as vergonhas, ainda que assim não fosse”. É que, na proporção, a tromba do índio tinha ficado numa centimetragem avantajada. Talvez virasse local de peregrinação para ver a fartura do borogodó gigante. Com os anos, a escultura foi ficando passada e a substituíram por uma máquina gigante da prospecção do petróleo.
Eu estava visitando o incrível Museu Solar Escola dos Jesuítas, na Baixada Campista, maravilhoso prédio do século 17, tombado pelo Iphan, onde funciona o arquivo da cidade. As historiadoras lindas e louras, jovens e sedutoras, pareciam saídas do seriado das Panteras, passeando fashionistas pelos corredores assombrados da antiquíssima construção. Elas estão restaurando um livro de 1650 que documenta a fundação da cidade.
Foi quando parei numa janela para descansar e contemplar a planície. E foi quando dei de cara com a enorme escultura do índio abandonada e com a enorme estrovenga dele, que mesmo envelhecida pelo tempo era hipnotizante. Pensei: “Deve ser por isso a cara de felicidade das mulheres campistas”.
Continuando a visita, me deparei com o altar barroco saqueado que está sendo restaurado: imaginem colunas rococó de 370 anos, majestosas, e os buracos que precisam ser preenchidos com o sumiço das peças. Que pena que governos passados permitiram que nossa arte sacra fosse objeto de comércio clandestino.
Vendo o desenho do altar original, já consegui ver que aqueles magníficos anjos e santos de madeira talvez estivessem pela Europa. Mas a guia me contou que dois altares foram identificados no Museu Histórico Nacional, e sua reincorporação já foi pedida (a Polícia Federal segurou os oratórios na hora de um leilão não autorizado, graças a Deus).
Depois, fui visitar o Museu Solar do Barão de Araruama. Restauração impecável devolveu ao prédio de 300 anos um ar de novinho. Lá descobri que Nilo Peçanha foi o único campista a ser presidente do Brasil. E que o abolicionista José do Patrocínio era filho de uma moça e seu amor clandestino com um padre, sendo esta mulher a filha de Karucongo, líder de um dos maiores e mais bem organizados quilombos. Lá não se admitiam grávidas, porque era insuportável crianças que poderiam ser escravas. Campos tem muita História e estória para contar. Parabéns, Rosinha!