Rio -  Quem está partida é a costelinha assada com baião de dois, porque a cidade se une pela boca. Da laje à birosca, o roteiro está nas mãos de gulosos de todas as freguesias, que ganharam ‘passaporte’ para conhecer paisagens únicas de cultura e natureza. Da vendedora de empadas que canta funk e virou personagem de novela no Complexo do Alemão à rabada que tira do sério a atriz Roberta Rodrigues, no Vidigal. A carne de capivara é bem temperada na Rocinha, e no Morro dos Prazeres o frango inteiro vai para a churrasqueira.
Roberta Rodrigues adora a rabada do Bar Lacubaco | Foto: João Laet / Agência O Dia
Roberta Rodrigues adora a rabada do Bar Lacubaco | Foto: João Laet / Agência O Dia
O ‘Guia Gastronômico das Favelas do Rio’ (Abbas Edições e ArteEnsaio, 170 págs., R$ 70) sugere passeio inédito por 22 estabelecimentos de oito favelas, desvendando um mar de sabores do tamanho daquele azul que se avista do Chapéu Mangueira.
“Estou gravando em Jacarepaguá e ligo para reservar minha feijoada no Bar Lacubaco, apesar de que a rabada é minha preferida. Aliás, a Maria Vanúbia também rasparia o prato, chiquérrima”, diz a atriz Roberta Rodrigues, citando sua personagem em ‘Salve Jorge’.
Moradora do Vidigal e freguesa do bar de Fábio e Fabíola, Roberta faz na novela o papel de moradora do Complexo do Alemão, onde Adriana Souza, a “moça da empadinha”, vende seus quitutes cantando funk. Ela acabou também no folhetim de Glória Perez, fazendo o papel de si própria: “Agora me divido entre as empadas e a TV, e ainda levo brigadeiros para a gravação”, conta Adriana, também personagem do Guia.
David com os autores Marcos Pinto, Sérgio Bloch e Ines Garçoni no bar que leva o seu nome | Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
David com os autores Marcos Pinto, Sérgio Bloch e Ines Garçoni | Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
Com autoria de Ines Garçoni e Sérgio Bloch, e fotos de Marcos Pinto, o livro conta a história de cada favela e seus personagens cozinheiros, destacando os melhores quitutes. Há bares também nas comunidades do Morro da Providência, Santa Marta, Tabajaras e Chapéu Mangueira, todas pacificadas.
“Às vezes o cara adora um pé-sujo no Leblon ou na Tijuca, mas torce o nariz quando se fala em favela. O Guia ajuda a quebrar esse preconceito, integrar. A diversidade é enorme, com comida boa e vistas incríveis”, afirma a autora Ines Garçoni.
Francês no Tabajaras
No Tabajaras, a dupla de cunhados cearenses que já trabalhou na cozinha do chef francês Olivier Cozan, Romero e Augusto, tem o próprio Olivier como freguês e fã, assando disputadas costelinhas no Restaurante 48. Ou, na tradição francesa, servindo omeletes de champignon e de queijo com presunto.
Pescador e mestre de bateria de escola de samba, filho de grande líder comunitário no Chapéu Mangueira, David Vieira ficou conhecido no mundo inteiro pela comida de seu bar, ao sair em reportagem do jornal ‘The New York Times’, e já subiu no pódio de concurso de botecos com seus petiscos.
No Morro da Providência, o Sabor das Loiras reúne a mãe Rejane e a filha, Bárbara, que adoram abóbora e com ela fazem apetitosos bolinhos recheados de carne-seca. Ou a lasanha de abóbora com carne e molho branco. E, no restaurante do Glimário, na Rocinha, a geladeira exibe carnes como javali, avestruz e jacaré.
Como bem resume o escritor Nei Lopes no prefácio do Guia, os objetos do livro são “assimilações e ampliações de hábitos alimentares de correntes migratórias que chegaram no Rio, influenciadas por variantes como, por exemplo, tempo de preparo e ocasião”. 
Além de comida da melhor qualidade, vista de tirar o fôlego
Não tem cobertura de hotel ou varanda de Zona Sul que se compare às vistas do Rio proporcionadas pelas lajes nas partes altas das favelas. Destacando comida e paisagem, pontos como a Laje Do César e sua feijoada, no topo do Chapéu Mangueira, no Leme, trabalham com reservas de grupos e encantam fregueses de todas as partes do mundo.
Tia Léa, já famosa cozinheira de celebridades, conhecida como a “Ana Maria Braga do Vidigal”, está nas páginas com seus churrascos, moquecas e bufê variadíssimos na laje com vista para o mar.
Já no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, quem se abre para os olhos é a Baía de Guanabara com seu Pão de Açúcar, enquanto os frangos e costelas assadas no bafo vêm à mesa acompanhados de aipim, farofa, arroz, batatas fritas, molho à campanha e outras gostosuras no Bar do Tino. Grupos de turistas costumam subir em visitas guiadas e com hora marcada. Programas imperdíveis que começam a ser descobertos.