Rio -  Entender ‘letra de médico’ é tarefa árdua para farmacêuticos e pacientes na hora decomprar remédios. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), a legibilidade das receitas é um direito do cidadão e divulgar essa norma aos consumidores passou a ser lei no município do Rio, na última quarta-feira.
A partir de agora, hospitais, clínicas, laboratórios e farmácias da cidade deverão afixar em local visível o aviso: “É vedado ao médico receitar ou atestar, de forma secreta ou ilegível, quaisquer documentos médicos. O não cumprimento desta resolução deverá ser denunciado ao Cremerj”. O cartaz deverá ter, no mínimo, 30x50 cm. A lei foi sancionada pelo prefeito Eduardo Paes, e a prefeitura estuda como será a fiscalização da nova norma.
Farmacêutica de um estabelecimento no centro do Rio, Fátima Inês conta que ‘deduz’ os nomes dos medicamentos, com base na prática | Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
Farmacêutica de um estabelecimento no centro do Rio, Fátima Inês conta que ‘deduz’ os nomes dos medicamentos, com base na prática | Foto: Fernando Souza / Agência O Dia
O ex-vereador Carlinhos Mecânico (PSD), um dos autores do projeto de lei, de 2011, diz que a demanda surgiu por parte dos jovens. “Filhos e netos de idosos que iam comprar o medicamento para seus parentes confundiam os remédios, o que atrasava o tratamento”, explica. “A população ficará mais consciente de que a receita médica serve para resolver um problema e não para criar outro”, acrescenta ele.
Secretário-geral do CFM, Henrique Silva explica que, em caso de denúncia, o conselho avalia se houve uma infração ética por parte do médico. “Em caso positivo, ele poderá sofrer advertência, censura e até cassação do registro”, afirma. “A receita é o coroamento da consulta médica e seu mau entendimento gera riscos para o paciente”, complementa o médico.
Para entender as receitas, é preciso muitos anos de prática
Enquanto a lei não é disseminada, os ‘garranchos’ dos médicos ainda são motivos de dor de cabeça entre farmacêuticos e pacientes. Apesar de exercer a profissão desde os 17 anos, Vanderlei Vieira, 48, ainda enfrenta problemas para entender receitas médicas.
“O pior é quando o pedido é por telefone. Já tive que mandar funcionário ir à casa do cliente para saber o que ele queria”, conta.
Para Fátima Inês, também farmacêutica, entender a caligrafia dos médicos é questão de prática. “Os farmacêuticos deduzem a receita porque conhecem o nome de todos os remédios, mas entendo a dificuldade do cliente”, diz ela.