Rio -  Entendo que Daniela Mercury é uma pessoa pública, revelou uma decisão pessoal e, por isso, as pessoas se sentem no direito de dar suas opiniões sobre. Mas ouço cada absurdo a respeito do casamento dela com outra mulher... e aí? Qual o problema? O que isso afeta a sua vida?
“Isso não é normal!”, esbravejou um taxista, apontando duas meninas de mãos dadas no Leblon, típico casalzinho adolescente. “O que você vai explicar pro seu filho?”, perguntou o motorista indignado, dirigindo olhando para trás, com o dedo apontado para a minha cara, quase provocando um acidente de trânsito.
Outro, mais tranquilo, reagiu a um debate transmitido por uma rádio: “Por que as pessoas debatem isso? Ela é independente, bem-sucedida, avisou à família, melhor que muita hipocrisia que tem por aí”. Respondi concordando e viemos conversando. O assunto acabou vindo à tona a semana inteira, na minha pesquisa do ‘Data Táxi’ e, mesmo quando não tinha um gancho, as pessoas falavam. No meio da aula da hidroginástica, e a professora preocupada em como lidar com o assunto com o caçula. “Falam em liberdade de expressão, mas a Joelma foi bombardeada”, disse. Uma pessoa pública como ela deveria pensar mais um pouquinho antes de sair falando absurdos, reagiu a turma. Mais tarde, num almoço em grupo, o mesmo papo com a frase: “Mas Daniela Mercury é uma pessoa pública”. Sim, mas ela revelou um fato da vida dela, justamente por não querer patrulha. Não falou nenhuma sandice, nem cometeu nenhum crime.
Para quem não lembra, a cantora da banda Calypso disse à coluna de Bruno Astuto na ‘Época’ que tem muitos fãs gays, mas “a Bíblia diz que o casamento gay não é correto e por isso ela é contra”. Até aí, é uma questão de crença religiosa. Mas a explicação veio carregada de preconceito nazista. Ela disse que, se tivesse um filho gay, “lutaria até a morte para fazer sua conversão”, pois já viu muitos se regenerarem. “Conheço muitas mães que sofrem por ter filhos gays. É como um drogado tentando se recuperar”, declarou. Opinião é uma coisa, promover discriminação de homossexuais é outra, completamente diferente: é expressão homofóbica, e homofobia é crime. Muito simples.
Dias depois, vem o Gerald Thomas e enfia o dedo na ‘panicat’ Nicole Bahls, durante seu lançamento de livro, e muita gente acha normal o machismo. Mas, se fosse em outro país, ele poderia responder a processo de abuso e até seria preso.
Quando meu filho nascer, o que eu vou explicar a ele? Que é necessário respeitar o próximo.
E-mail: karlaprado@odianet.com.br