Rio -  Desde que Amaral Neto estreou programa de TV enaltecendo os feitos da ditadura empresarial-militar, os governos não mais deixaram de custear aqueles que lhes elogiam. Com a redemocratização, foi editada a Lei Sarney, oficializando a prática. Lei editada no início do Governo Collor glosava as benesses. Mas, diante das reações, foi restabelecida a Lei de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet, que ampliou as hipóteses de custeio para alegria dos empresários da indústria cultural. É o mecenato oficial.
As obras renascentistas, dentre as quais as de Leonardo da Vinci e Michelangelo, não existiriam sem os mecenas. Mecenato é um modelo de financiamento de artistas e intelectuais, mas também serve para melhorar a imagem dos custeadores. Empresas poluidoras custeiam atividades culturais visando à simpatia dos consumidores. Aos desastres ambientais ou denúncia de exploração de trabalho escravo seguem-se campanhas de marketing e mecenato, visando a minimizar danos.
Governos corruptos e truculentos simulam gosto pela cultura e arte para suavizar suas imagens.
Empresas estampam suas marcas nos eventos, mas o dinheiro gasto é deduzido do imposto de renda. Com dinheiro público as empresas lustram as suas marcas. Não há clareza no processo de autorização para captação fornecida pelos órgãos de cultura e não há rigor nas prestações de contas.
Em nome da arte e sob custeio público promovem-se bizarrices e grosserias. Um dos artistas beneficiários de tais custeios, Gerald Thomas, depois da violência sexual a que submeteu Nicole Bahls, disse que “meteu a mão na menina”, mas “tudo termina em panos quentes” como todas as coisas e que o Brasil é um “paisinho de quarto mundo” ou um “Corsa que quer ser Mercedes”. Se a empresa de comunicação para a qual Nicole Bahls trabalha exige sua submissão a tais comportamentos para lhe manter o emprego e ela aceita é problema dela. Mas à sociedade cabe decidir se deve manter o custeio de bizarrices.
João Batista Damasceno é doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito. Além de membro da Associação Juízes para a Democracia