Rio -  Aldir Blanc é o maior letrista vivo do Brasil. O outro é o Chico Buarque (embora haja letristas muito mais vivos que os dois juntos). Se pairavam, como um urubu de Tom Jobim, dúvidas, dissiparam-se com o livro recém-lançado, ‘Aldir Blanc — Resposta ao tempo’, de Luiz Fernando Vianna (Casa da Palavra). Tenho o privilégio de ter participado do lançamento do seu primeiro disco (‘Agnus Sei’, parceria com João Bosco, pelo Pasquim).
Tudo o que eu disser sobre o livro será café pequeno perto do que escreveram na contracapa Ruy Castro: “Para quem conhece Aldir , este livro de Luiz Fernando Vianna é impressionante. Aldir está todinho nele. Em cada página dá para ver Aldir, escutar Aldir, beber com Aldir, cantar com Aldir, rir com Aldir”; Guinga: “Seu navio, ancorado no Porto de São Cristóvão, singra o mar de São Januário, percorre uma reta sobre o Caju, toma à direita sobre a Ponte Rio-Niterói e, quando cruza a Baía de Guanabara, já tem os sete mares conquistados”; Moacyr Luz: “Moramos no mesmo prédio por 23 anos, e nossas músicas eram feitas entre idas e vindas, letra e melodia, na escada de serviço”... Como tudo que Aldir faz, o lançamento do livro foi diferente. Tremendo suspense. A maioria acreditava que ele não iria.
E a minoria tinha tremendas dúvidas. Horas antes liguei para Mary e perguntei: e aí, o homem vai? “Não posso garantir, ele está deitado no chão da sala”. Tem horas em que é chato ser ateu, eu não podia rezar para que o Aldir revolvesse ir. Mas fui lá, mesmo porque estava seco (com trocadilho) para ler o livro. E a livraria Argumento tem um bar nos fundos. É claro que numa ocasião dessas justificava-se a quebra da Lei Seca imposta pelos médicos. Com Otávio Augusto e Antônio Pedro, que estavam na mesa, dando força, pedi a primeira cerveja (quando Célia chegou da Uerj, o inevitável já tinha acontecido...). Finalmente, quando os tíbios perdiam a esperança, ele apareceu. “Aldir parece que está mais alto; os dois centímetros que perdi nos últimos tempos devem ter ido para ele”, disse Antônio Pedro.
Só então reparei que havia uma espécie de aura de luz em torno dele. Não comentei porque inevitavelmente alguém diria “parece coisa de viado”. Achei que se mandaria rapidinho, mas que nada , quando voltei pra casa ele ainda estava a mil, autografando, feliz da vida, bebendo todas, com seu glamour ( isso, sim, parece coisa de viado) que Caymmi definiu genialmente: “Ninguém é carioca como Aldir Blanc”. E, de lambuja, o livro inclui fotos e mais de 450 letras do grande poeta da música brasileira. Corram para comprar.