Rio -  Após a difícil negociação do estado para retirar os índios da Aldeia Maracanã, a Prefeitura do Rio tem outro impasse na região para resolver. Comerciantes da Favela do Metrô, no Maracanã, estenderam faixas em frente às suas lojinhas de mecânica pedindo solução para a expectativa de remoção para outras áreas.
A comunidade está sendo desapropriada para remodelação do entorno do Maraca. Enquanto 566 famílias já foram transferidas para conjuntos habitacionais, em Vila Kosmo Cosmos e na Mangueira, os comerciantes, em sua maioria donos de oficinas, aguardam o polo automotivo prometido pela Prefeitura.
Boa parte da Favela do Metrô, no entorno do Maracanã, foi posta abaixo | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Boa parte da Favela do Metrô, no entorno do Maracanã, foi posta abaixo | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Segundo os lojistas, a proposta, feita há dois anos pelo então secretário de habitação Jorge Bittar, era de que o polo fosse construído no próprio local onde estava a comunidade, às margens da Avenida Presidente Castelo Branco. Na Favela do Metrô ainda moram 46 famílias que regularizam seus documentos para ter direito a um apartamento, já assegurado em Triagem.
“Com as famílias eles agiram corretamente, mas e quanto a nós? Somos cerca de 75 comerciantes que empregam 500 chefes de família. A Copa das Confederações está chegando. Não vão querer que nenhuma comitiva passe na frente de favela. Vimos o que aconteceu com os índios. E se eles derrubarem as lojas e mandarem resolvermos nosso problema na Justiça?”, questiona o mecânico Fredson Henrique Monteiro, 40 anos, que há 20 trabalha na oficina.
As oficinas do local funcionam de forma precária: área será urbanizada | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
As oficinas do local funcionam de forma precária: área será urbanizada | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Nas faixas, eles pedem “socorro” para tentar chamar a atenção para o problema. O maior receio é o de ficar desempregado. “Tenho medo de perder o local de trabalho. Muitas pessoas como eu só tiveram esse emprego e já estão velhas. Onde vamos encontrar outro trabalho? Tenho família muito grande para sustentar”, diz o mecânico Pedro Augusto Nascimento, de 50 anos, pai de 16 filhos de diversos casamentos, e ex-morador da favela. Ele já foi contemplado com um apartamento na unidade habitacional Mangueira II.
A Secretaria Municipal de Habitação, responsável pelo projeto do polo automotivo, alegou que, devido à troca de secretário da pasta no fim do ano passado, o projeto atrasou. Ainda de acordo com a secretaria, o novo titular do cargo, Pierre Batista, está analisando esse e outros projetos da gestão anterior e irá marcar uma reunião para negociar com os comerciantes em breve.
Entulho de mais de 500 casas demolidas ainda não foi retirado
Além da incerteza quanto ao futuro de seus lojas e de seus empregos, os comerciantes e moradores remanescentes da Favela do Metrô convivem com outro problema.
As oficinas do local funcionam de forma precária: área será urbanizada | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Funcionários e donos de oficinas colocaram faixa pedindo criação de polo | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
As residências das 556 famílias de moradores removidos foram demolidas pela subprefeitura da Zona Norte, porém. Todo o entulho foi deixado no local. O espaço onde deveria ser construído o polo automotivo está repleto de lixo, pombos, ratos e até focos de dengue.
“Largaram isso aí assim. Cheio de entulho e lixo. Esse local, que é grande, poderia abrigar todos os comerciantes da região em boxes, mas está abandonado. O novo secretário não veio aqui conversar com a gente até hoje. Já faz quatro meses que ele assumiu. Tem quase um ano que ninguém nos procura. Ficamos tristes de vir aqui e ver só entulho e um monte de ratos. Nós queremos trabalhar, pagamos impostos, não somos bandidos. Temos família para sustentar”, contou Fredson Monteiro.
O subprefeito da Zona Norte, André Santos, foi procurado pela reportagem do DIA, mas não retornou as ligações para explicar o motivo de os entulhos ainda não terem sido retirados.

Reportagem de Athos Moura