Rio -  Ser acometido por um mal súbito e precisar de atendimento médico imediato. Já aconteceu com você? Dizem por aí que a saúde é o nosso maior maior patrimônio. Se você tem plano de saúde, basta sacar a carteira e partir para uma clínica. Mas é ilusão achar que tudo correrá como o prometido. Nas UPAs, já se imagina como será, mas é engano. Pode ser um bom caminho.
Nos planos, a expectativa de atendimento diferenciado é logo frustrada. E aí começa a grande trajetória de sofrimento. Na entrada, há uma senha a ser retirada e atendentes nem sempre simpáticos. Em seguida, vem a triagem, feita por enfermeiros que medem a sua temperatura, a pressão e o grau de sofrimento do paciente.
Passado este estágio, de uns 45 minutos, você se vê na sala de espera do médico aflito por um diagnóstico que, quase sempre, não existe. Isso faz o paciente entrar em contato com a vulnerabilidade da vida — está nas mãos de um plantonista —, pensa no valor pago mensalmente e na má retribuição do serviço.
Inevitável sentir ter sido passado para trás. O mais caótico é que, se você está em estado emergencial, a emergência não é emergente. Se necessita de exames, eles não podem ser feitos no ato por diversos motivos. Retornar para casa é destino certo junto à angústia em alta.
Com a vida em risco, filhos para criar, emprego em perigo, volta-se para mais um dia de espera e começa-se outra vez o processo, sem a certeza do exame necessário. Que ódio! Impossível não lembrar as promessas feitas por quem nos vendeu aquele como o melhor plano de saúde, com cobertura total e pronto atendimento — que nunca é pronto, é lento, é apenas business.
Privatizada no governo FHC, a saúde está entregue a empresas que tratam comercialmente dela. Pagamos pela garantia do plano de saúde. Você tem? Não? Não sofra porque não vale a pena. Abra mão do orgulho: vá ao SUS, você também paga por ele. Ao contrário do que deveriam ser, os planos resultam em descaso, vulnerabilidade e desprezo pelo humano no lugar do tratamento prometido. Voltemos ao Art. 196: “A saúde é direito de todos e dever do Estado”. Ou não é?
Fernando Scarpa é psicanalista