Rio -  A guerra entre a Coreia do Sul e a Coreia do Norte reflete a antiga briga entre o comunismo e o capitalismo. Na contramão do contemporâneo, o Norte rejeita a inserção no capitalismo produtivo, impondo um regime de produção de pobreza. Contraditória, rejeita, mas sobrevive de raspas e restos do capitalismo, inclusive dos seus irmãos de baixo.
O mundo, já ‘descansado’ de guerras, explode em preocupação frente à possibilidade de as duas Coreias se confrontarem — a do Sul, com apoio dos Estados Unidos, o grande intrometido de todos os conflitos. A potência norte-americana é a maior fomentadora da indústria bélica e, sem guerra, não lucra, nem aquece sua economia despedaçada. A batalha entre essas duas partes de um mesmo povo é, sem dúvida, mais uma necessidade de lucro.
Mas o que significa guerra e guerrear, afinal? Apenas uma disputa de poder e de interesses entre dois lados que desejam impor, um ao outro, uma economia e um regime político. Sede de poder? Com certeza que sim. Guerrear é uma imposição de domínio. No caso das duas Coreias, essa ânsia se utiliza da ameaça nuclear, o que pode acabar sobrando para todo mundo.
No plano pessoal, em paralelo a essa possível guerra, há o combate  entre as nossas duas partes: o eu dividido e os nossos conflitos. Capitalista por um lado, comunista por outro. Cada um atende a necessidades diversas, sempre tendendo para um dos lados — neste caso, o do prazer, do consumo, do desejo capitalista.
Falo dos conflitos humanos, das nossas próprias ameaças internas. Não com armas nucleares, mas com armas secretas, manipulações e retaliações que ocorrem nas relações de poder entre pessoas. É o antigo desejo humano de impor sua vontade, o domínio que aprisiona e submete uns aos outros.
A eminência de guerra suscita nossas próprias lutas pela sobrevivência nesses dias de globalização. Globalização que socializa a informação, mas isso não globaliza o bom-senso, não produz unidade. Pelo contrário: todos querem a defesa de seus interesses individuais, das suas singularidades ao custo do empobrecimento alheio. No caso da Coreia, diferente dos conflitos pessoais, pode sobrar para o mundo as consequências. Esperemos e apostemos na paz que, certamente, fará falta!
Psicanalista