Especial Caixa e Tarol: Identidade sonora
Reportagem retrata os valores dos instrumentos que possuem a função do sustento rítmico para uma bateria: O balanço e o swingue
POR RAFAEL ARANTES
Rio - A sustentação básica. Como os pés que sustentam cada ser humano de pé, as caixas dão toda a base para uma bateria, e até mesmo para outros ritmos musicais. O instrumento que possui uma maior constância rítmica dentro do conjunto geral dos ritmistas não tem nada de simples e muitas vezes, nem de badalado. Visto por muitos como 'só mais um', o instrumento faz a diferença e tem o poder de caracterizar propriamente um grupo musical, não só no samba, como em diversos ritmos da música mundial.
Caixa: Sustento e identidade para as baterias | Foto: Divulgação
Também valorizada por diversos ritmos musicais, a caixa possui, no samba, uma questão mais que especial. Importante pelo valor rítmico e também pelo lado próprio de cada bateria, o instrumento nem sempre se destaca, mas jamais é esquecido na mente dos maiores envolvidos com o espetáculo.
A base do samba
Experiente e fundamentado, mestre Ciça é um dos especialistas quando o assunto é a caixa. O instrumento mais querido do atual comandante da Invocada é visto pelo sambista como a parte mais essêncial do conjunto. No entanto, da mesma maneira que a importância é gigantesca, o grau de dificuldade de sua execução também é alto. Peça que exige a maior quantidade de ritmistas numa bateria, a caixa é o swingue marcante de cada conjunto.
"Costumamos dizer que a caixa é o estéreo de uma bateria. É o instrumento responsável por uma grande função, ele dá a sustentação rítmica, além de ditar o andamento também. É uma peça fantástica. No entanto, não é um instrumento fácil de ser tocado e não há como dar bobeira quando está na responsabilidade de tocar uma caixa, é um instrumento muito cansativo. Se uma bateria não tiver caixas é como se tivesse morta, por isso podemos ver que é uma peça que vem em alta quantidade. Eu, geralmente, desfilo com 120 ritmistas tocando", disse Ciça, que ainda ressaltou a necessidade de um toque conjunto, padronizado, descartando a existência de um tipo de batida correto ou incorreto.
Experiente e fundamentado, mestre Ciça é um dos especialistas quando o assunto é a caixa. O instrumento mais querido do atual comandante da Invocada é visto pelo sambista como a parte mais essêncial do conjunto. No entanto, da mesma maneira que a importância é gigantesca, o grau de dificuldade de sua execução também é alto. Peça que exige a maior quantidade de ritmistas numa bateria, a caixa é o swingue marcante de cada conjunto.
"Costumamos dizer que a caixa é o estéreo de uma bateria. É o instrumento responsável por uma grande função, ele dá a sustentação rítmica, além de ditar o andamento também. É uma peça fantástica. No entanto, não é um instrumento fácil de ser tocado e não há como dar bobeira quando está na responsabilidade de tocar uma caixa, é um instrumento muito cansativo. Se uma bateria não tiver caixas é como se tivesse morta, por isso podemos ver que é uma peça que vem em alta quantidade. Eu, geralmente, desfilo com 120 ritmistas tocando", disse Ciça, que ainda ressaltou a necessidade de um toque conjunto, padronizado, descartando a existência de um tipo de batida correto ou incorreto.
Para Ciça, as caixas são o instrumento mais importante | Foto: Divulgação
"O estilo da batida é algo muito próprio de cada escola, existe o toque em cima e embaixo, mas é algo muito relativo. A caixa bem tocada embaixo dá um sustento maior, uma boa base e é até menos cansativo para se tocar. Já o toque em cima é bastante diferenciado, é uma essência diferente, lembrando que não podemos confundir com os taróis. Digamos que não existe o certo e errado, o perfeito é existir um padrão, todos tocando da mesma maneira, independente do tipo de levada", acrescentou Ciça.
Parente próximo
Para muitos, o tarol não passa de um instrumento idêntico às caixas, mas o fato é totalmente equivocado. Presente em poucas das baterias do Carnaval do Rio, o tarol possui sim suas semelhanças com as caixas, mas tem em seu estilo de toque bastante distinto. Visto por muitos com uma identidade 'do passado', o tarol ainda batalha muito para se manter vivo no cenário das baterias e, bastente criticado, e até mesmo considerado em extinção, em alguns momentos, sua presença configura nada mais do que um diferencial constante, que segundo mestre Marcão, precisa ser muito estudado pelos críticos.
Parente próximo
Para muitos, o tarol não passa de um instrumento idêntico às caixas, mas o fato é totalmente equivocado. Presente em poucas das baterias do Carnaval do Rio, o tarol possui sim suas semelhanças com as caixas, mas tem em seu estilo de toque bastante distinto. Visto por muitos com uma identidade 'do passado', o tarol ainda batalha muito para se manter vivo no cenário das baterias e, bastente criticado, e até mesmo considerado em extinção, em alguns momentos, sua presença configura nada mais do que um diferencial constante, que segundo mestre Marcão, precisa ser muito estudado pelos críticos.
Marcão exaltou presença de caixa e tarol na Furiosa | Foto: Alex Nunes / Divulgação
"O tarol é um instrumento muito diferenciado. Tivemos que arrumar uma levada de caixa que não chocasse com a batida tradicional do tarol, para que não houvesse nenhum conflito na bateria. É uma peça muito importante, dá um swingue diferente. Tem muita gente que acha que tarol é caixa. Que pega o instrumento e faz a levada da caixa, como se estivesse correto, mas não é assim. No tarol, existe um maior número de frases musicais, é um instrumento bem complexo. A função pode ser vista como a mesma das caixas, manter a base, fazer o chão para os demais instrumentos. É uma peça bastante criticada até, mas para falar sobre ela tem que conhecer os fundamentos deste instrumento tão importante", disse o mestre, que ainda reforçou a dificuldade de se manter uma ala de tocadores de tarol com muita facilidade.
"No Salgueiro, sempre foi um instrumento presente, mas chegou a se afastar há alguns anos. Entre 2000 e 2003 ocorreu uma grande diminuição dos taróis na bateria, em 2004 nem sequer houve no desfile. Mas isso foi mudando, conseguimos buscar de volta o pessoal assíduo do instrumento. Atualmente temos um consistente número de ritmistas no tarol. É muito bom ver esta essência presente", concluiu Marcão.
Identidades distintas
Além de serem considerados instrumentos básicos na sustentação rítmica de uma bateria, as caixas e os taróis são os maiores responsáveis pela identificação musical de cada bateria. Caracterizados pelos distintos estilos de batidas que podem proporcionar, os instrumentos variam seus toques a cada escola por onde passam. Um dos responsáveis pela direção de bateria da premiada Tabajara do Samba, Junior Sampaio sempre possuiu uma forte ligação com o instrumento e revelou que não é do nada que cada escola definiu sua batida, fato que possui uma relação com as famosas batucadas dos orixás.
"No Salgueiro, sempre foi um instrumento presente, mas chegou a se afastar há alguns anos. Entre 2000 e 2003 ocorreu uma grande diminuição dos taróis na bateria, em 2004 nem sequer houve no desfile. Mas isso foi mudando, conseguimos buscar de volta o pessoal assíduo do instrumento. Atualmente temos um consistente número de ritmistas no tarol. É muito bom ver esta essência presente", concluiu Marcão.
Identidades distintas
Sampaio ressaltou ligação entre toques dos orixás com as baterias | Foto: Divulgação
"Alguns toques são praticamente iguais, como na Mangueira e na Portela, onde a diferença está na entrada na segunda, quando a Verde e Rosa o toque entra sem a rufada e a Portela com. Essas rufadas entram como um tom mais forte na batida, elas também acabam caracterizando muito o toque da escola. É um certo diferencial". Confira alguns dos tipos de batida das escolas do Rio:
Tradição em questão
Outro que sempre teve uma forte ligação com o fundamental instrumento é mestre Lolo. Destaque em diversas escolas por onde passou, o atual mestre de bateria da Curicica é uma grande referência como tocador de caixa. Diretor da bateria Furiosa, do Salgueiro, Lolo é o principal responsável pela manutenção e obediência dos ritmistas junto ao toque da caixa e do tarol. No entanto, não é a relação direta com a peça que faz o sambista fechar os olhos para um fato claramente polêmico no mundo do samba.
Mestre Lolo admira tradição mantida nas baterias | Foto: Alex Nunes / Divulgação
Com as constantes modificações do samba, muitas escolas viram sua característica básica, quando fala-se do tipo de levada da caixa, ser modificada ou até perdida no tempo. Ciente do fato, e até recentemente vivido uma situação parecida, Lolo comentou a tão polêmica alteração nas batidas, que estão sendo realizadas com uma frequência maior nos dias de hoje.
"O padrão da casa tem que ser respeitado sempre mas, atualmente, alguns presidentes querem ver resultados imediatos e estão dispostos até em acabar com as características da bateria. Na própria Curicica, por exemplo, a caixa era tocada embaixo e após um pedido da presidente fizemos a mudança. Não é cômodo para o mestre mudar seu método de trabalho, começar do zero é muito difícil. Hoje em dia, os mestres acabam tendo sua própria bateria", comentou Lolo.
"O padrão da casa tem que ser respeitado sempre mas, atualmente, alguns presidentes querem ver resultados imediatos e estão dispostos até em acabar com as características da bateria. Na própria Curicica, por exemplo, a caixa era tocada embaixo e após um pedido da presidente fizemos a mudança. Não é cômodo para o mestre mudar seu método de trabalho, começar do zero é muito difícil. Hoje em dia, os mestres acabam tendo sua própria bateria", comentou Lolo.
Referência mundial
Como falar das caixas sem citar um dos que, provavelmente, é um dos mais conhecidos quando o assunto é a didática e a execução do instrumento. Oriundo da Estácio, Serrinha Raíz é um dos músicos mais reconhecidos mundialmente, e que leva a relação com o samba e, principalmente, com a caixa por todo lugar onde passa. Detentor de um grande projeto no exterior, Serrinha não abre mão de ressaltar a diferença de cada estilo de batida e a importância básica do instrumento para as baterias.
Como falar das caixas sem citar um dos que, provavelmente, é um dos mais conhecidos quando o assunto é a didática e a execução do instrumento. Oriundo da Estácio, Serrinha Raíz é um dos músicos mais reconhecidos mundialmente, e que leva a relação com o samba e, principalmente, com a caixa por todo lugar onde passa. Detentor de um grande projeto no exterior, Serrinha não abre mão de ressaltar a diferença de cada estilo de batida e a importância básica do instrumento para as baterias.
Serrinha Raíz é grande referência por todo mundo do samba | Foto: Divulgação
"Sobre tocar em cima ou embaixo é uma questão relativa, a diferença está apenas no estilo do toque e na característica inovada de algumas escolas, como Estácio e Tijuca, dentre outras. A levada da batida em cima posssui uma dinâmica diferente do toque embaixo, questão técnica. Mas é este instrumento que tem uma das características mais importantes dentro de uma bateria. É a caixa que dá a característica de cada escola, através de sua batida. Resumindo, a caixa é a digital de uma bateria, sua identidade", comentou.
Identidade, característica, digital, base. São muitos os adjetivos que o indispensável instrumento pode vir a receber, no entanto, a certeza é uma só. Não há quem não se encante com o swingue, não se instigue com os diferentes estilos e não se empolgue com o resultado. Eis um dos mais essênciais ícones do grupo musical das escolas de samba. O sustento de todo o ritmo.
Identidade, característica, digital, base. São muitos os adjetivos que o indispensável instrumento pode vir a receber, no entanto, a certeza é uma só. Não há quem não se encante com o swingue, não se instigue com os diferentes estilos e não se empolgue com o resultado. Eis um dos mais essênciais ícones do grupo musical das escolas de samba. O sustento de todo o ritmo.
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