Rio -  O Datafolha colocou nossa Polícia Militar como “a mais corrupta” do país, com 30% dos casos de extorsão. Chamava-se atenção para o alto número de PMs expulsos: 1.411 desde 2008. Baseada nisso, a secretária nacional de Segurança afirmou que “as milícias do Rio cresceram muito por causa dessas expulsões”, vendo a necessidade de uma política de recuperação do policial criminoso.
Tais interpretações são duvidosas. Sem negar os problemas que envolvem as polícias (não esquecendo que nossa Civil foi apontada como a segunda mais corrupta do país), é útil fazer três observações. Mensurar a corrupção pela quantidade de policiais punidos é enganador. Quanto mais eficaz for o combate à corrupção, maiores serão os resultados; ao contrário, sendo a impunidade regra, os números dirão que a questão está resolvida. O alto número de expulsões indica que a corrupção se tornou endêmica na PM, mas, também, que existe movimento de combate ao problema. Isso é tudo o que se pode concluir.
Extrapolar para estabelecer rankings é, no mínimo, imprudente. Não menos difícil seria estabelecer programas de recuperação para policiais criminosos. A importância da função policial e os prejuízos que pode causar desaconselham tal iniciativa.
Finalmente, relacionar o aumento das milícias com o número de expulsões é ignorar a dinâmica do fenômeno. A experiência mostra que aquele que ingressa na milícia o faz quando ainda está nos quadros da polícia. Vale-se do poder que a função concede. É essencial sua condição de agente público, e, uma vez excluído, perde ascendência sobre o bando. Milícia é negócio. Visa ao lucro. Ela precisa de agentes aptos a penetrar no aparelho estatal.
O Rio luta há décadas contra o crime e vem desenvolvendo boas práticas. É preciso aprimorá-las. Nesse sentido, conclusões desinformadas podem ser deletérias, não importa quão bem intencionadas.
Promotores de Justiça da Auditoria Militar do Rio