Cabral nega que motivação de UPP em Cosme Velho seja visita do Papa
Com o Cristo Redentor como testemunha, PM ocupa favelas do Cosme Velho sem disparar um único tiro | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
O secretário Beltrame ressaltou que outra característica da quadrilha local era a de roubos e furtos, a maioria contra turistas que passam pelo local para acessar pontos turísticos.
A Polícia Civil apoiou a ação com ônibus de identificação do Instituto Félix Pacheco, Delegacia da Mulher itinerante e agentes da 9ª DP (Catete). Helicópteros da PM sobrevoaram a região desde as primeiras horas da manhã e os militares permanecerão na comunidade até a inauguração da 33ª UPP.
Proteção do céu e da terra
O rosto da comerciante Ana Lúcia Nunes, de 40 anos, expressava o sentimento comum ontem aos mais de 2.800 moradores do Cerro-Corá: a emoção de acordar numa comunidade livre do domínio do tráfico, após décadas de opressão. Em 30 minutos, a favela do Cosme Velho e outras duas vizinhas foram ocupadas por 420 homens das forças de elite da PM, que não dispararam nenhum tiro.
A laje da casa onde Lúcia nasceu foi escolhida para ostentar a bandeira do Brasil — símbolo de que o território foi retomado pelas forças da lei. Primeira moradora das 224 comunidades ocupadas por 32 UPPs a participar da cerimônia, ela não conteve as lágrimas quando hasteou o pavilhão nacional. A participação de moradores mostrou boa receptividade à nova UPP, que deve ser inaugurada no fim de maio. A população cobrou melhorias.
PM ocupa Cerro-Corá
Policiais ocupam a comunidade do Cerro-Corá, no Cosme Velho, Zona Sul da cidade
“Gostaria que a preocupação fosse com os moradores. Que isso dê tranquilidade para serem realizados serviços de saneamento e coleta de lixo”, enfatizou o presidente da Associação de Moradores do Guararapes, Eduardo Silva, 62. “Turistas vão vir sem receio, podendo tirar fotos e curtir a comunidade. Projetos são importantes para movimentar a cultura”, completou Sidney Firmo, 31, guia de visitantes.
Com a ocupação do Cerro-Corá, Guararapes e Vila Cândido, a Secretaria de Segurança Pública fechou o ‘cinturão’ na Zona Sul. “A comunidade estava prevista em 2008. Retomamos o plano porque não queremos avançar deixando partes para trás”, disse o secretário José Mariano Beltrame. O próximo alvo deve ser a Maré.
Imprensa estrangeira de olhos bem atentos ao início da pacificação
A ocupação também foi acompanhada pela imprensa internacional. Na entrada principal da comunidade, a ‘TV 2’, da Dinamarca, dividia espaço com o impresso espanhol ‘El Mundo’. Os repórteres vieram exclusivamente ao Rio acompanhar ações policiais.
“Estamos fazendo um programa especial sobre polícia no mundo. É nossa primeira ocupação. Estou impressionada com as táticas similares às de guerra”, contou a repórter dinamarquesa Karin Cruz, ao falar do aparato policial para a operação.
A repórter espanhola Natalia De La Cuesta mora no Rio há 8 meses. A escolha da casa, na pacificada Babilônia, no Leme, foi estratégica para entender a vida numa comunidade. “A imprensa espanhola é muito interessada em conteúdos sobre favelas. O Rio está em ascensão internacional e precisa desmistificar a violência”, opinou.
A imprensa também acompanhou a instalação dos contêineres que servirão de base provisória da UPP. Após a inauguração, 190 PMs recém-formados trabalharão no local.
Data escolhida por causa de turistas na rua
A maior novidade na ação de ontem foi a mudança de data: pela primeira vez, a ocupação ocorreu num dia de semana, devido ao excesso de turistas e ciclistas subindo o caminho para o Sumaré e Cristo Redentor, pontos turísticos localizados acima da comunidade.
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