Rio -  Ato não pensado e vergonha. A desculpa e o arrependimento dão o tom dos depoimentos em inquérito policial-militar, aberto no Corpo de Bombeiros, do cabo que transformou o 4º Grupamento da unidade, em Nova Iguaçu, em cenário para orgias com casal vidrado em fantasias sexuais, ano passado.

Fuzileiro naval por nove anos e oito meses e há quatro na corporação, o cabo negou, mas depois confessou o desvio e pediu pena branda pelos serviços prestados à administração.

O episódio revela um fetiche de muitas mulheres em relação a homens fardados. Nos sex shops, a fantasia de bombeiros só perde para a da Marinha e da Polícia Militar.
Fábio Mansur, gerente de sex shop em Duque de Caxias, diz que fantasias de bombeiros saem bastante. Modelos variam de R$ 50 a R$ 100 | Foto: André Mourão / Agência O Dia
Fábio Mansur, gerente de sex shop em Duque de Caxias, diz que fantasias de bombeiros saem bastante. Modelos variam de R$ 50 a R$ 100 | Foto: André Mourão / Agência O Dia
“Vem que estou quente’. Elas devem pedir para o parceiro, vestido de bombeiro, apagar o fogo delas”, imagina a vendedora Ana Paula Fonseca, da Atacado Hot, em Duque de Caxias, que já saiu com um bombeiro. A imaginação é a mola do negócio. “Usaria uma. Por que não? Aqui vendo umas dez com frequência”, diverte-se Fábio Mansur, gerente da loja.

Apimentar a relação sexual com o casal no quartel trouxe consequências para o cabo quando a dupla postou as estripulias em blog, incluindo fotos na escada magirus, como revelou na terça-feira a coluna Justiça e Cidadania, do DIA.

Em agosto, o cabo saiu várias vezes pela tangente sobre o assunto durante a investigação. Mas acabou emparedado pelo burburinho que tomou conta da unidade e por ter sido reconhecido por outro militar.
Montagem de bombeiros descendo de rapel foram feitas na foto em que a mulher aparece nua no quartel | Foto: Reprodução
Montagem de bombeiros descendo de rapel foram feitas na foto em que a mulher aparece nua no quartel | Foto: Reprodução
A partir daí, reconheceu que o encontro teria ocorrido uma vez com o casal, que conhecera na internet.

Em blog, o casal revelou a história sem timidez. O marido revelou que, durante a diversão com o bombeiro, cuidou da mulher: “A cabeça dela batia na porta do carro. Deitei minhas costas na porta, protegendo a esposa, como bom corno faz”. O cabo e um sargento que permitiu a orgia respondem por pederastia.

Fixação foi mania na TV e no calendário

A fantasia da mulherada com os bombeiros é reforçada em calendários e até programas de TV. Série americana de sucesso, "Sex and The City" mostrou, na terceira temporada, a personagem Samantha e sua fantasia com um bombeiro.

“As mulheres só querem ser resgatadas”, afirmava Samantha, cheia de desejos. O programa alcançou o auge nos anos 2000. Por aqui, o maior alvoroço foi quando José Albucacys posou para o calendário "Heróis do Rio 2003", cuja madrinha era a modelo Luma de Oliveira.
Mulher chegou a usar camisa de bombeiro, como acessório do fetiche | Foto: Reprodução
Mulher chegou a usar camisa de bombeiro, como acessório do fetiche | Foto: Reprodução
Execução é a parte difícil

Ter fantasias é comum, o problema é colocar em prática. A diferença é enfatizada pelo psicanalista Jeremias Ferraz e pela sexóloga Regina Navarro Lins.

“Fantasia é uma coisa, outra é a realização, em função das normas sociais e legais. O importante é saber o significado”, analisa Jeremias Ferraz.

Para Regina Navarro Lins, que assina a coluna "A Cama na Varanda", no DIA, as fantasias são saudáveis, mas é preciso avaliar bem antes que se decida botá-las em prática. E não podem resultar em culpa para o casal.

“Nelas, os sujeitos são os roteiristas, os cinegrafistas e os iluminadores. O que não significa que a relação seja ruim. Agora, alguém vai ficar com vontade e agarrar a mulher do chefe, por exemplo”, questiona Regina.