Rio -  O bilionário Eike Batista quer aumentar a área edificada (onde há prédios) da Marina da Glória — bem público tombado pela União — em mais de 600%.

A denúncia é da Associação de Usuários da Marina (Assuma). O grupo defende que os números apresentados pela REX — uma das empresas de Eike — na audiência pública da Câmara dos Vereadores no último dia 2 não são verdadeiros.

Segundo eles, a REX mostrou, na ocasião, uma arte dos planos em computador e nenhuma planta das obras que realmente quer fazer.

“Eles falam em construir 45 lojas, mas temos informações que cada unidade teria 600 m². Isso pode representar mais de 200 pontos de venda de 100 m², ou seja, um grande shopping que descaracterizaria a Marina”, contesta o presidente da Assuma, José Fernandes.
Atualmente, o limite de área edificada na Marina da Glória é de cerca de 1,6 mil metros quadrados, o que respeita o tombamento feito pela União | Foto: Carlos Eduardo Cardoso / Agência O Dia
Atualmente, o limite de área edificada na Marina da Glória é de cerca de 1,6 mil metros quadrados, o que respeita o tombamento feito pela União | Foto: Carlos Eduardo Cardoso / Agência O Dia
Segundo a associação, o shopping de Eike teria 6 mil m² e o centro de convenções previsto no projeto, 3,8 mil. Hoje, o limite de área edificada na Marina é de cerca de 1,6 mil, o que respeita o tombamento.

O vereador Paulo Messina (PV) se posicionou contra o projeto em seu blog. ‘A empresa quer lucrar estimados R$ 40 milhões anuais usando área pública. O que ele vai oferecer de benefício à população?’, escreveu.

Em nota, a REX disse que a área edificada ocupará 7.742m². Ressaltou ainda que o novo projeto respeita aspectos do original. “As obras irão começar só depois que todas as etapas de aprovação junto aos órgãos competentes forem concluídas”, diz a nota.

Ex-conselheira duvida que Iphan aprove

Outra frente da batalha naval que O DIA acompanha desde 23 de fevereiro entre Eike e os usuários da Marina — entre eles o cantor Roberto Carlos, que ancora o iate Lady Laura IV no local — será travada nos escritórios do Iphan.

A autorização prévia que o órgão deu para a construção do shopping e do centro de convenções não deve passar pelo Conselho Consultivo do órgão, segundo a advogada, ex-vereadora e ex-conselheira do Iphan, Sonia Rabello. Em fevereiro, Eike divulgou que seu projeto, barrado pelo Iphan-Rio, tinha sido aprovado em Brasília.

“Essa suposta aprovação foi conseguida em uma câmara de recursos, cujos conselheiros são nomeados em cargos de confiança, os chamados cargos em comissão, subordinados à presidência. Ou seja, não possuem capacitação técnica e independência. A posição história do Conselho Consultivo é preservar a Marina da Glória”, explicou Sonia.

Segundo ela, o processo de tombamento do Parque do Flamengo não se limitou à questão imobiliária. Bustos com homenagens a personalidades ou políticos não podem ser instalados, por exemplo, e o tombamento quis garantir a existência de um parque público, no qual a Marina da Glória está inserida.