Rio -  Quem intentou assassinar o presidente do Conselho Federal da OAB, enviando-lhe uma carta-bomba que explodiu nas mãos da secretária Lyda Monteiro e a matou, em 1980? A resposta a esta pergunta, e a várias outras relacionadas a crimes ocorridos no Rio de Janeiro durante a ditadura militar, será uma das missões da Comissão Estadual da Verdade que não mediremos esforços para cumprir.
Com muita honra, fui designado para presidir a comissão, que iniciará as investigações assim que os seus integrantes forem nomeados pelo governador. A sociedade precisa saber quem tentou, pela via do terrorismo, calar a OAB na voz de Eduardo Seabra Fagundes, que a presidia, e de tantos advogados que não se curvaram ao terror.
Precisa saber quem foram os responsáveis pelo assassinato de Stuart Angel em 1971, nas dependências da Aeronáutica, e, anos mais tarde, pelo estranho acidente que vitimou sua mãe, Zuzu Angel, incansável lutadora por descobrir o paradeiro do filho. Há ainda a bomba que explodiu no Riocentro num show do Dia do Trabalho, que poderia ter matado milhares de pessoas. E muito a ser esclarecido nas medievais casas da morte montadas para torturar os opositores do regime, especialmente a de Petrópolis, de onde só uma pessoa saiu viva.
O trabalho será de colaboração à Comissão Nacional da Verdade, e nos empenharemos para desvendar, por meio de testemunhos e documentos, fatos que permanecem obscuros décadas depois de recuperadas as liberdades democráticas. Será umaoportunidade de dar continuidade ao trabalho que vimos desenvolvendo na OAB do Rio, calcado na convicção de somente a verdade do passado, às claras e sem retoques, será o antídoto eficaz para que jamais se repitam os crimes que envergonharam tanto a nação.
Wadih Damous é conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil pelo Rio de Janeiro