Rio -  Os carros voltam neste fim de semana à Lapa, junto com a esperança de menos lixo e desordem nas ruas. Depois de dois anos e oito meses fechados às sextas e sábados das 22h às 5h, trechos das ruas do Riachuelo, Mem de Sá e dos Arcos serão reabertos hoje ao trânsito.
Dirigentes comunitários da região esperam que o fim do bloqueio e, consequentemente, menos gente nas ruas signifiquem menos sujeira. A prova será se as montanhas de lixo e mau cheiro na Lapa diminuírem ao raiar do dia. Mesmo com o cenário, a Comlurb afirma que recolhe, em média, 20 toneladas de lixo domiciliar e seis toneladas de lixo público por dia na região.
Montes de lixo podem ser encontrados em todas as ruas da Lapa | Foto: André Mourão / Agência O Dia
Montes de lixo podem ser encontrados em todas as ruas da Lapa | Foto: André Mourão / Agência O Dia
Para Louise Tommasi, do movimento ‘Eles não amam a Lapa’, a região virou “coisa de maluco” com os pedestres no meio das vias. “O frequentador não respeita o meio ambiente, faz xixi nas árvores, assim como os ambulantes, que jogam óleo na pista”, diz.
Para o fundador da Associação Amigos da Lapa, hoje extinta, e morador do bairro há 50 anos, Jurandir Albuquerque,faltou planejamento. “A Lapa não estava preparada para receber tanta gente, e a prefeitura não conseguiu fazer a fiscalização da ordem”.
Enquanto isso, os que vão para o bairro boêmio curtir a noite desaprovam a medida, como o músico Tarcísio Cisão, que costuma tocar nos fins de semana. “Entendo o lado dos moradores, mas a prefeitura deve promover um consenso”, propõe.
Catador de lixo na Lapa: com tanto lixo nas ruas, não falta serviço | Foto: André Mourão / Agência O Dia
Catador de lixo na Lapa: com tanto lixo nas ruas, não falta serviço | Foto: André Mourão / Agência O Dia
A Comlurb garante que, a partir deste fim de semana, ampliará o número de garis na região de 36 para 56, com três turnos de serviços de limpeza geral e varrição, cobrindo as 24 horas do dia.  
 
Coleta seletiva
A Comlurb diz também que a Lapa será incluída no roteiro do programa de coleta seletiva até meados do ano. Além disso, está distribuindo 1.000 contêineres de tampa azul, exclusivos para o lixo domiciliar dos prédios e condomínios, para garantir o correto condicionamento e agilizar a coleta.
Promessa de ruas mais iluminadas e seguras
A Lapa também ficará mais iluminada a partir desta sexta-feira, segundo o presidenteda Rioluz, Henrique Pinto. A segurança também foi motivo para a liberação do tráfego, sobretudo no início da manhã.
Nesta madrugada, o órgão trocará 49 lâmpadas amarelas, de vapor de sódio, por lâmpadas brancas, de multi vapor metálico, que, segundo Pinto, fornecem melhor claridade. “As lâmpadas brancas permitem melhor visualização de pessoas e objetos. Além disso, as cores também ficam mais nítidas. Será um ‘tchan’ a mais para a Lapa”, disse Pinto.
Casal ‘vive’ como lixo na Rua dos Inválidos. Moradores reclamam que eles brigam e namoram o dia todo | Foto: André Mourão / Agência O Dia
Casal ‘vive’ como lixo na Rua dos Inválidos. Moradores reclamam que eles brigam e namoram o dia todo | Foto: André Mourão / Agência O Dia
Os locais escolhidos para a mudança foram a Mem de Sá, com 33 lâmpadas, o entorno da Praça da Cruz Vermelha, com 12, e a Praça João Pessoa, com quatro. Na semana que vem, mais ruas serão contempladas pela operação, que somará, no final, 392 novas lâmpadas. Ruas como a Gomes Freire e Riachuelo, o entorno da Fundição Progresso e os Arcos estão incluídos no programa.
O presidente da Rioluz não quis dizer quanto custou a troca, mas garantiu que ela foi feita para atender a uma reivindicação de moradores da região. “Prefiro não dizer agora os custos porque estão previstas mais mudanças para a Lapa. Porém, em relação a economia, posso dizer que elas consomem a mesma coisa”, afirmou.
Ponto de vista - Aziz Filho, editor de O DIA
Não gosta da Lapa quem não curte samba ou é ruim da cabeça. É fácil se apaixonar pelos casarões seculares e pelo agito jovem que transforma bares em formigueiros humanos. Difícil é entender o desprezo por uma região que atrai o mundo graças à sua mística e ao empreendedorismo de sua boemia. E é impossível não se indignar com as cenas diárias produzidas pelo abandono.
Caminhávamos às 14h de ontem para almoçar na Rua do Rezende quando tivemos de desviar da calçada para não incomodar um cidadão que defecava, indiferente à movimentação de carros e pedestres. Era só um dos que encaram a Lapa como região onde tudo vale. Inspiram-se na Guarda Municipal que não protege o patrimônio urbano, na RioLuz que não ilumina, na Ordem Pública que nada ordena, na Cedae que finge não ver esgoto a céu aberto e na Comlurb, que não limpa, não lava e não instala lixeiras.