Rio -  Aproximadamente 500 pessoas participaram, na tarde deste sábado, de um ato de repúdio à Eleição do Deputado Marco Feliciano (PSC-SP) para presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. O evento, organizado através das redes sociais, foi realizado na Cinelândia, no Centro do Rio. De acordo com os organizadores, este é um ponto de partida na tentativa de "derrubar" o religioso do função.
Durante a manifestação misturavam-se palavras de ordem como: "Feliciano, você vai ver, a maioria não precisa de você" e "Fora, Renan", quando a questão na verdade é uma crítica à ausência de representatividade identificada pela parcela insatisfeita da população.
Manifestante usa humor em cartaz e critica até o corte de cabelo do deputado Marco Feliciano | Foto: Tamyres Matos / Agência O Dia
Manifestante usa humor em cartaz e critica até o corte de cabelo do deputado Marco Feliciano | Foto: Tamyres Matos / Agência O Dia
O protesto, marcado para as 14h, reuniu pessoas de diversas idades, concentradas, principalmente nas escadarias da Câmara Municipal do Rio. No local, um megafone foi disponibilizado para quem quisesse falar o que pensava. Por volta das 15h, uma senhora propôs que cada um presente na manifestação colocasse uma faixa preta "em sinal de luto pela morte da ética".
Pouco depois das 15h, os manifestantes deixaram a Cinelândia e seguiram em protesto pela Avenida Rio Branco proferindo palavras de ordem contra o pastor eleito. O protesto ocupou duas faixas da via, no entanto, não houve prejuízo algum ao tráfego da região. Guardas Municipais acompanhavam o ato à distância.
Outras manifestações contra a eleição do pastor ocorreram no país. Em São Paulo, mais de 300 pessoas interditaram o trânsito na região central da cidade. A eleição do deputado ocorreu na última terça. O religioso é conhecido por sua posição conservadora em relação aos direitos dos homossexuais, além de ter afirmado que "repousava sobre o continente africano, até na África do Sul, com população branca, uma maldição patriarcal".
Cerca de 500 pessoas participaram da manifestação | Foto: Tamyres Matos / Agência O Dia
Cerca de 500 pessoas participaram da manifestação | Foto: Tamyres Matos / Agência O Dia
Marco Feliciano é pastor da Assembleia de Deus e defende suas posições com mensagens fortes. Em 2011, por exemplo, ele disse no Twitter que "os africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé". Em entrevista à revista Veja, o religioso afirmou que "união homossexual não é normal. O reto não foi feito para ser penetrado. Não haveria condição de dar sequência à nossa raça". Marco Feliciano já tentou derrubar a decisão do STF que permite a união civil entre pessoas do mesmo sexo.
Novo protesto
Uma nova manifestação está marcada para 14h do próximo sábado com concentração no posto 5 da Praia de Copacabana, na Zona Sul da cidade. Durante o ato na Cinelândia, um dos presentes leu a carta-intenção do protesto. Leia o documento na íntegra abaixo:
Nós, brasileiros, manifestamos nosso profundo descontentamento com a indicação e eleição do Deputado Federal Marco Feliciano do Partido Social Cristão para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Nossa manifestação se baseia no próprio texto do histórico da Comissão, publicado em seu site, onde se diz que
“As violações de direitos humanos continuam a ser praticadas, muitas vezes, pelos próprios agentes do Estado".
As declarações homofóbicas e racistas do citado deputado ferem a ética política necessária à reputação daquele que coordenaria um órgão zelador dos direitos humanos. Acima de qualquer valor religioso está o respeito a todo e qualquer ser humano, dentre os quais estão, ainda segundo o texto da Comissão: “indígenas, migrantes, homossexuais e afro-descendentes”.
Num país de democracia tão jovem, faz-se necessário gritar a plenos pulmões que a nossa cidadania não será cerceada diante de tamanha agressão. Unidos na luta por uma representatividade verdadeira na Comissão de Direitos Humanos e Minorias do Congresso Nacional, nos manifestamos durante este fim de semana, junto com outras cidades do país, contra todas as declarações desse deputado e contra todos os encarregados que o indicaram e elegeram para exercer tal função.
Assinado,
“Minorias” brasileiras.
Um dos cartazes dizia: 'Não somos minoria" | Foto: Tamyres Matos / Agência O Dia
Um dos cartazes dizia: 'Não somos minoria" | Foto: Tamyres Matos / Agência O Dia