Rio -  Durante mais de quatro décadas, a pescadora Maria Ducelina Viana da Silva, de 60 anos, trabalhou informalmente, porque acreditava não ter direito à carteira de pescadora simplesmente por ser mulher. “Me diziam que pescar era só para homens”, diz. Ela começou a trabalhar numa época em que homens e mulheres ainda tinham papéis definidos no mercado de trabalho, e tampouco teve acesso à informação para lutar por seus direitos. “Assim que comecei a trabalhar, tentei tirar a carteira, mas me disseram que eu não podia, que só os homens tinham direito. Eu acreditei e tratei de continuar trabalhando e criando os meus filhos”.
Maria Ducelina, de 60 anos, foi pescadora durante mais de quatro décadas, mas somente há três anos conseguiu legalização no trabalho | Foto: Divulgação
Maria Ducelina, de 60 anos, foi pescadora durante mais de quatro décadas, mas somente há três anosconseguiu legalização no trabalho | Foto: Divulgação
Moradora da Microbacia Barra do Furado, em Quissamã, a pescadora conseguiu sair da informalidade há apenas três anos, com o apoio da colônia de pesca. Ela revela que criou os oito filhos trabalhando com o marido, que também era pescador. “Depois que ele morreu foi que os meus colegas começaram a dizer que não tinha cabimento eu não ter carteira”.
Sem Mágoa
A atividade profissional na informalidade deixou marcas na vida da trabalhadora. Devido à atividade repetitiva, ela teve problemas nos dois punhos e precisou de cirurgia. “Não tenho mágoa disso não, é a história da minha vida. Criei meus oito filhos desta maneira e todos são homens e mulheres de bem. Isso é o que importa”, afirma a mulher.
Maria Ducelina pesca no Rio Espinho e no Canal das Flexas, que cortam a microbacia onde vive. “Agora eu pesco umas três vezes por semana. Pesco cedo, limpo tudo e vendo aqui mesmo na minha comunidade. Vendo tudo, tudo o que pesco. Tenho uma ótima freguesia”, diz.
A pescadora conta que atualmente a vida está mais fácil. “Quando meus filhos eram pequenos, ia pescar correndo, enquanto eles estavam na escola. Hoje estão todos criados”, comemora Maria Ducelina.
Ducelina receberá benefício
Técnico da Emater-Rio e executor do Rio Rural na microbacia Barra do Furado, Fábio Siqueira informa que Maria Ducelina está na lista de beneficiários do Rio Rural que receberão incentivos ainda este ano para reforma e aquisição de material de trabalho. “Ela é um exemplo nesta comunidade. Enfrentou o machismo e hoje está com a vida em dia”, diz Fábio.