Rio -  "Parece que o tempo não passou. Continuo presa aqui”. Para Simone Oliveira, 33, que há dois anos divide um quarto de cerca de 3m² com três filhos e o marido no abrigo do 3º Batalhão de Infantaria (BI), em São Gonçalo, a página da tragédia do Morro do Bumba, em Niterói, ainda não foi virada.
Sem casa, ela cobra o “teto” prometido pela Prefeitura e, diante do indiciamento do ex-presidente da Empresa Municipal de Moradia Urbanização e Saneamento de Niterói, José Roberto Vinagre Mocarzel, faz apelo para que a lista de acusados cresça.
Mocarzel, como noticiou O DIA  com exclusividade nesta quinta-feira, foi indiciado por homicídio culposo e crime ambiental pela morte de 51 pessoas. No 3º BI, ainda vivem outras oito famílias do Bumba.
“Perdi tudo, vivo com doações. Por que mais pessoas não foram indiciadas? E o Jorge Roberto Silveira (ex prefeito), não será incluído? Ele sabia que aquilo dali era uma tragédia anunciada”, desabafou Simone, que perdeu a casa na avalanche de lama e lixo.
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
Simone há dois anos divide um quarto de cerca de 3m² com três filhos e o marido no abrigo do 3º Batalhão de Infantaria (BI), em São Gonçalo | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
A antiga doméstica, que teve de largar o trabalho para cuidar dos filhos, denuncia a insalubridade do abrigo. Em meio a 89 famílias, num total de 268 pessoas, sendo 144 crianças, recentes casos de pneumonia e hepatite preocupam. “Perdi um filho de três meses com pneumonia. Isso daqui é lugar para ser humano? Dezenas de pessoas dividindo um banheiro?”, questiona Simone.
Há também problemas com ratos, baratas e comida estragada. “Disseram que íamos para o conjunto no Morro do Castro em abril, mas isso mudou tanto que não sabemos mais”, diz Luiz Cláudio, outroo morador do abrigo.
Apartamentos não foram construídos
No conjunto habitacional do Morro do Castro, onde a Prefeitura irá realocar moradores do 3º BI e de outras regiões afetadas pelas chuvas, a construção dos 454 apartamentos ainda não está finalizada.
Diante do prazo apertado, o vereador de Niterói Henrique Vieira (Psol) fará, neste fim de semana, uma vistoria para ver o andamento da obra e acompanhar a situação dos moradores do 3º BI.
“Existem problemas estruturais nos prédios do Viçoso Jardim, já ocupado por desabrigados, e vamos entrar com uma representação no Ministério Público contra isso. Como tudo foi feito às pressas na antiga gestão, vamos pressionar a entrega desse novo condomínio com condições dignas e evitar situações como esta”, prometeu Henrique.
Foto: Severino Silva / Agência O Dia
No conjunto habitacional do Morro do Castro, a construção dos 454 apartamentos ainda não está pronta
 | Foto: Severino Silva / Agência O Dia
O vereador também pretende encontrar medidas cabíveis para cobrar agilidade no andamento do processo de denúncia no MP contra Mocarzel: “Queremos que o MP cumpra a função de verificar o inquérito e que isso não caia em esquecimento”.
Mais uma vez, o ex-prefeito Jorge Roberto Silveira não foi encontrado para comentar as acusações.
Prefeitura terá força-tarefa
O secretário de Habitação de Niterói, Marcos Linhares, informou que “todas as famílias que perderam parentes com os deslizamentos do Morro do Bumba foram beneficiadas com imóveis no conjunto habitacional de Várzea das Moças, onde foram disponibilizados 93, e mais 180 unidades no Viçoso Jardim”.
Segundo ele, os desabrigados que estão no 3º BI serão realocados no Morro do Castro. “O Bumba acabou. Não existe mais. Todas as famílias de vítimas fatais foram realocadas”, garantiu.
Em relação à falta de aluguel social para algumas famílias no Bumba e o retorno de moradores a casas interditadas, a Defesa Civil explicou que está atualizando os relatórios desde as chuvas de 2010. “Estamos organizando uma força-tarefa para atender a essa demanda acumulada”, disse o vice-prefeito, Axel Grael.