Rio -  Cada macaco no seu galho. Levando ao pé da letra o velho ditado popular, especialistas em primatas estão transferindo micos-leões-da-cara-dourada, que correm risco de extinção, de Niterói para o Sul da Bahia, seu habitat natural.
Estudos recomendam a sua remoção porque essa espécie é tida como invasora em Niterói. Eles chegaram à região há cerca de dez anos, por causa do tráfico de animais ou acidentalmente, e já somaram mais de 200 indivíduos, divididos em 30 grupos, segundo pesquisas.
De acordo com o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, 104 animais já foram capturados em armadilhas especiais que não os deixam feridos. Destes, 66 já foram “repatriados”, 17 se encontram em quarentena e outros 21 ainda estão se recuperando de doenças típicas da espécie.
Mico-leão-da-cara-dourada: perigo de extinção da espécie | Foto: Ana Pimenta / Divulgação
Mico-leão-da-cara-dourada: perigo de extinção da espécie | Foto: Ana Pimenta / Divulgação
“A ação é inédita no Brasil e necessária para evitar reprodução entre animais de espécies semelhantes, como o mico-leão-dourado, natural da região. O nascimento de animais híbridos pode causar desequilíbrio ecológico e até dizimar as duas espécies”, justificou Minc.
As famílias de micos-leões-da-cara-dourada estão restritas ao Parque Estadual da Serra da Tiririca, administrado pelo Inea, e à Reserva Ecológica Darcy Ribeiro, da Prefeitura de Niterói.
A expansão dos grupos, porém, fez com que os animais começassem a invadir condomínios residenciais, sendo alimentados por moradores, embora bem intencionados, de forma inadequada. “O mais grave é que vários deles já morreram eletrocutados em fios de alta tensão ou atacados por cães e gatos”, comentou o secretário.
Depois de exames, micos são transportados em aviões

O Instituto Pri-Matas coordena a transferência, com apoio do Inea, Instituto Chico Mendes e Centro de Primatologia do Rio, entre outros órgãos, e patrocínio da Fundação Grupo Boticário. Após a captura, exames e quarentena, os micos são tranportados de avião para a Bahia. Lá, recebem rádio-colares para monitoramento na nova área, que não tem populações nativas da espécie.
Todo o processo, segundo o Instituto Pri-Mata, obedece a protocolo recomendado por instituições internacionais de proteção animal. Além de Niterói, matas de Maricá e São Gonçalo também serão monitoradas por cerca de dois anos após a retirada dos grupos.
Micos invadem os prédios ao redor da floresta pelos telhados | Foto: Ana Pimenta / Divulgação
Micos invadem os prédios ao redor da floresta pelos telhados | Foto: Ana Pimenta / Divulgação
Espécies vivem cerca de 15 anos
Os micos-leões-da-cara-dourada subsistem apenas na região de Una, no Sul baiano. São parte do gênero Leontophitecus chrysomelas e vivem por cerca de 15 anos. Têm em torno 30 cm de comprimento e a mesma medida de cauda. A espécie se alimenta de frutos, insetos, alguns fungos, pequenos vertebrados e ovos, além de seivas e âmbares de árvores e flores.
Alguns moradores lamentam o ‘repatriamento’. “Vão deixar saudades. Nos acostumamos com eles. Acho que não há risco de desequilíbrio”, opina Ana Pimenta, que mora próximo à Serra do Tiririca.