Rio -  Nas comemorações dos 100 anos da sempre vanguardista Tomie Ohtake, a primeira coisa que me vem à cabeça é a enorme estrela criada por ela (mais parecia uma aranha amarela) que instalaram no meio da Lagoa Rodrigo de Freitas em 1985. A ideia foi aprovada pelo maluco-beleza Darcy Ribeiro, então vice do Brizola. O objeto foi logo apelidado de Monstro da Lagoa, devido a um filme de terror classe B que fazia sucesso na época. Durou cinco anos, até que uma ventania fez a estrela adernar. Foi recolhida e sumiu.
Ninguém tinha mais raiva da aranha gigante que o multimídia — arquiteto, desenhista, escritor, jornalista, escritor, compositor e encrenqueiro — Marcos Vasconcellos. “Jaguar! — me convidou — Vamos pegar um cisne e dinamitar aquela bosta!” Naquele tempo alugavam pedalinhos em forma de cisnes brancos. Coisa de pouca duração porque pudibundas senhoras de binóculo denunciaram cenas de saliência (licença, Ancelmo) explícita a bordo. “A gente leva uma banana de dinamite e explodimos a Aranha!”, insistia. Foi um custo convencê-lo de que ninguém a bordo do pedalinho sabia lidar com bananas de dinamite, era mais provável a gente explodir.
Me bateu agora uma saudade do Vasconça, sua casa na Rua Peri. Uma turma da pesada: Vinicius, Tom, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Rezende, o pessoal todo da música, arquitetos, artistas, porra-loucas em geral, marcavam ponto lá todos os dias. Uma vez Silvinha Telles e eu nos atiramos de roupa e copo de uísque na mão, de uma altura de três metros, na piscina das crianças, com 80 centímetros de fundo.
Marcos e João Saldanha, para mim, eram almas gêmeas. Um, mineiro, e outro, gaúcho, eram muito mais cariocas do que nós; quem falasse mal do Rio perto deles levava porrada. Outra do Vasconça: queria sair de madrugada dando tiro de chumbinho nos pichadores que sujavam as paredes da cidade. Agora, esses porcalhões são elogiados pelos (risos) críticos de arte. Quem falar mal dos grafiteiros se arrisca, na melhor da hipóteses, a ser rotulado de politicamente incorreto. Coisas assim me dão vontade de renunciar, que nem o Papa.