Rio -  Equipes de resgate do Corpo de Bombeiros encontraram mais dois corpos de vítimas do temporal em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, nesta quinta-feira. Com isso, o número de mortos pelo temporal do último domingo já chega a 33. Segundo aprefeitura, as chuvas também deixaram 44 feridos. Destes, 14 permanecem internados, incluindo o integrante da Defesa Civil Ricardo Correa. O número de desabrigados ou desalojados caiu de 1.463 para 1.237 pessoas, enquanto os pontos de abrigo passaram de 27 para 24.
De herói à vítima
O pedreiro Jamil conhece bem o sofrimento que a chuva e o descaso das autoridades causam na Região Serrana. É a quarta vez que passa por uma tragédia como a dos últimos dias.
O olhar perdido do pedreiro Jamil Luminato, herói de muitas tragédias em Petrópolis, mas que acaba de perder a filha e dois netos | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
O olhar perdido do pedreiro Jamil Luminato, herói de muitas tragédias em Petrópolis, mas que acaba de perder a filha e dois netos | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
Ele se tornou herói em 1981, quando dezenas de pessoas também morreram soterradas. Na época, aos 21 anos, o pedreiro salvou vidas, e a sua foto com um bebê morto no colo, feita por Carlos Mesquita, ganhou a capa do ‘Jornal do Brasil’ e o Prêmio Esso, um dos mais prestigiosos do Jornalismo brasileiro.
Nesta quinta-feira, entretanto, após enterrar a filha e os dois netos, ele dizia que o estigma de herói não lhe convém mais. “Vivi isso em 1981, 1995, 2011, e não tinha dúvidas de que o meu papel era ajudar novamente agora.
Foi quando vi que a casa da minha filha tinha desabado, e o sentimento de heroísmo desabou junto. Infelizmente, perdi minha menina, de 27 anos, e meus dois netos, de 4 e de 2 anos”.
Após o drama de 1981, Jamil continuou morando no mesmo bairro, o Independência, como revelou ontem a ‘Folha de S. Paulo’. Ele afirma que, naquela época, o governo já fazia falsas promessas.
“Muitos que morreram agora são pessoas que se cadastraram em 1981 na prefeitura, acreditando que iriam receber novas casas. Mas o tempo foi passando, os governos mudaram, e nada saiu do papel. Até quando vamos viver de promessas? São três décadas de omissão”.
Em 1981, Jamil, então com 21 anos, carregou bebê morto num temporal | Foto: Carlos Mesquita / Agência O Dia
Em 1981, Jamil, então com 21 anos, carregou bebê morto num temporal | Foto: Carlos Mesquita / Agência O Dia
Jamil ainda faz um apelo. “A prefeitura não pode ser mais inimiga dos moradores, muito menos da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros. Em 1981, os governantes já diziam que a Defesa Civil não conseguia levar o resgate imediato para alguns locais devido a dificuldade do acesso.
Em 1995 e 2011, a justificativa foi a mesma, nada mudou. Por que não fazer algo para que a Defesa Civil e os bombeiros cheguem com facilidade aos locais, já que a história se repete há 30 anos?", questiona o pedreiro-herói.
Ministério Público vai à Justiça pedir obras para contenção de rios
O Ministério Público entrou nesta quinta na Justiça com uma ação civil pública para que a prefeitura de Petrópolis, o governo do Estado e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) façam obras para evitar o transbordamento dos rios Quitandinha e Piabanha.
Na ação, as promotoras Zilda Januzzi e Mariana Mascarenhas pedem que a Justiça determine prazo de 30 dias para que as autoridades apresentem projeto de Engenharia e a recomposição da mata ciliar dos dois rios.
O MP também requer dois tipos de indenização: uma pelas perdas patrimoniais das vítimas das enchentes e outra por dano moral coletivo, com verba destinada ao Fundo Nacional dos Direitos Difusos. O órgão prepara segunda ação cobrando contenção de encostas e remoção das famílias em áreas de risco.
O Ministério da Saúde enviou ontem 40 mil frascos de hipoclorito de sódio, para purificar a água, e kits de medicamentos para os desalojados pelas chuvas. O Hospital Santa Teresa, em Petrópolis, está precisando de doação de sangue de todos os tipos para atender as vítimas internadas na unidade.