Rotina de hospital muda para atender vítimas e parentes
Cirurgias foram canceladas e escalas de médicos e enfermeiros dobraram. Plásticas subiram de três para dez em cada turno
POR VANIA CUNHA
Foto: Ernesto Carriço / Agência O Dia
Troca de experiências
O médico montou videoconferências com colegas de vários países para discutir e analisar os casos mais graves. “A troca de experiências nos ajuda no tratamento que eles precisam. É a maior tragédia que já vi em muitos anos de pronto-socorro”, descreve.
‘Ouço histórias tristes e choro quando chego em casa’
Grupo de 10 voluntários passa dias e noites na porta do pronto-socorro. Na calçada, se revezam na distribuição de água, lanches e cadeiras para os parentes das vítimas. “Ouço tantas histórias tristes que todos os dias choro quando chego em casa”, disse o radialista Adriano do Canto, 43, que muitas vezes fica apenas ouvindo os parentes das vítimas.
Desde a tragédia, o médico Márcio Rodrigues dormiu apenas 16 horas. Ele saía do plantão quando recebeu a notícia e correu para recrutar colegas: “Me coloco no lugar deles”. Um centro de acolhimento foi criado no hospital, improvisado no anfiteatro, que recebe palestras e congressos. Ali pais aguardam notícias do estado de saúde dos filhos.
À espera de um milagre
Pelo saguão do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, um senhor caminha apreensivo. A cada passo, observa as paredes e a movimentação de médicos e pacientes, mas nada prende sua atenção. Andando sem rumo, enquanto atende aos mais de 150 telefonemas diários de parentes e amigos, que falam mensagens de apoio e buscam notícias de Maria Eduarda Parcianello Cabeleira, de 20 anos. A estudante de Fisioterapia é a razão da angústia do advogado Imar Santos Cabeleira, 53, que desde a tragédia perdeu as contas de quantas voltas deu no saguão do hospital, à espera de um milagre para sua filha. “Estou me agarrando à fé para aguentar tudo isso”, disse.
Ele só tem duas chances por dia para ver a filha na UTI. Ela vivia em Santa Maria com os irmãos, porque estuda na universidade federal. Aprovada em um projeto, ela ganhou bolsa de estudos para fazer especialização em setembro, nos Estados Unidos. A moça é uma das vítimas em estado grave no Hospital de Clínicas. Está em coma induzido e respira por aparelhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário