Rio -  Agora que finalmente começa o ano, com o Carnaval devidamente encerrado, é hora de propor reflexões. Que passarão a ser analisadas fora da agitação dos dias de Momo, quando pouco se pensa — e muito se dispersa.
Acho de uma obviedade acachapante — como dizia mestre Nelson Rodrigues — que o desfile do Grupo Especial não se esprema em duas noites. Está bem, OK, concordo com aqueles que dizem que a sexta-feira e o sábado já estão preenchidos com o antigo Grupo de Acesso. Mas e a Terça-feira Gorda (o Mardi Gras), o dia mais eloquente do Tríduo Momesco? Por que não aproveitá-lo em favor da economia do próprio Carnaval?
Pensemos, reflitamos: ora, gastam-se milhares de reais para que se mantenha a estrutura de camarotes luxuosos e tão bem equipados. Ademais, a prefeitura e a Liesa também gastam muito dinheiro para entregar todas as dezenas de itens de serviços públicos a tempo e a hora na Passarela Darcy Ribeiro.
Acresce outro fato: o da oferta, que tem procura maior a cada ano. Fica sempre um déficit para parte das milhares de pessoas que gostariam de assistir ao maior espetáculo de arte produzido no mundo.
Ora, por que então não se pensar em estender-se o desfile para uma terceira noite? E aí faço questão de alinhar outra razão, tão importante quanto o ganho geral para a economia do Carnaval do Rio: a comodidade. Sobretudo, dos turistas e dos aficionados que assistimos ao superdesfile. Um show que dura das 21h às 6h é sem dúvida excessivo em horas, apesar da exemplar organização que a Liesa e a Riotur implantaram no Sambódromo. Eu vejo a cada ano — sobretudo nas arquibancadas especiais para turistas estrangeiros, bem como em camarotes de luxo — uma parte considerável da plateia se retirar por volta das três da manhã ou antes.
Em resumo, proponho que o desfile divida-se em três segmentos. Cada um abrigando um terço das 12 escolas. Desse modo, as quatro por noite poderiam se exibir por mais dez ou 15 minutos. O que asseguraria muito maior comodidade também para os desfilantes e, sobretudo, para seus diretores de harmonia.
Ricardo Cravo Albin é presidente do Instituto Cultural Cravo Albin