Grades em prédios mudam estética da cidade e são reprovadas por urbanistas
POR ANGÉLICA FERNANDES
‘Muralha’ na Rua Rainha Guilhermina, no Leblon: no bairro, raros são os edifícios que estão livres dos gradis | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia
O urbanista Eduardo Barra é contra o gradil e vai além na crítica. “É um desastre. A Zona Sul está engaiolada e isso mata o urbanismo.” Para ele, as grades são uma ilusão de segurança. “Bandido rouba com grade ou sem grade.”
É a opinião de quem vive livre da jaula. “A segurança tem que ser na vigilância, com câmeras”, opina Antônio Pires, 50, em um dos poucos edifícios do Leblon que expõem a fachada como ela é. Na Av. Delfim Moreira, dá para contar nos dedos os apartamentos residenciais ‘livres’. A proporção é de dois edifícios livres para dez engaiolados, segundo a síndica Renata Souza, que trabalha em cinco prédios da região.
Permitido
“Grade é um chamariz. Um coloca e os vizinhos acompanham”, aponta Renata. Só em um prédio ela gastou R$ 2 mil com a cerca de alumínio e R$ 3 mil em sistema eletrônico. As grades costumam ser instaladas a cinco metros da fachada, deixando o resto para os pedestres. A prefeitura permite, pois todo imóvel possui uma extensão legal de afastamento frontal.
Especialista tenta convencer moradores a não aceitar as grades
O presidente do Instituto Art Déco Brasil, que estuda e preserva arquiteturas das décadas de 1920 a 50, encontrou dificuldades para fotografar fachadas de edifícios históricos da Zona Sul. Para Márcio Roiter, o gradil representa a perda definitiva da identidade urbanística da cidade.
“Como poderemos fazer um registro fotográfico da fachada de um prédio que existe há mais de 70 anos e agora está cercado de grade?”, questiona Márcio. Em 2011, quando foi a campo para reunir imagens deste porte, ele atestou que metade dos imóveis na Zona Sul que poderiam pertencer ao movimento Art Déco está enjaulada.
Na tentativa de contornar a ‘prisão’, Márcio decidiu investir em um intenso diálogo com moradores de edifícios antigos. “Convenço as pessoas a não aceitar as grades”, conclui.
Vidro ameniza mal-estar
Do gradil tubular de alumínio ao cercado de vidro temperado. Na Zona Sul, há soluções para todos os gostos e bolsos para trancafiar prédios. A tendência do vidro ameniza a sensação de enjaulamento, mas custa o triplo e, na ‘estética do medo’, bagunça ainda mais o padrão: “A manutenção é melhor”, diz o serralheiro José de Lima, que atendeu 5 edifícios na região.
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