Rio -  Fala-se muito em economia criativa e na necessidade de incentivo a formas de produção baseadas nessa filosofia. Fala-se muito da necessidade de leitura e de consumo de cultura para a formação de seres sociais plenos e engajados socialmente. Mas do que tem vivido efetivamente a literatura por parte de políticas públicas, se não de velhas ações pontuais e insuficientes? O segmento poético então... Meu Deus, morre à míngua.
De qualquer forma, mesmo diante da total falta de iniciativa do poder público para o segmento, o Rio de Janeiro tem uma das cenas poéticas mais ricas e diversas do país. São saraus, eventos literários, intervenções urbanas e clubes de leitura que fazem com que a palavra, em todos os seus suportes, esteja em movimento. O território é democraticamente permeado por atividades que nascem da necessidade individual de expressão, de socialização de gostos, ideias e atitudes. Essas iniciativas rapidamente se transformam em coletivos que, por sua vez, transformam os espaços que ocupam (ruas, praça, bares, cafés, restaurantes, livrarias, escolas..) em equipamento cultural.
Os eventos literários vêm arregimentando batalhões de amantes da literatura por toda a cidade: já são mais de 70 iniciativas que têm a palavra como instrumento. Esses movimentos, entre outras coisas, formam novos leitores, novas possibilidades, novas estéticas, novos seres sociais. Além de preencher uma lacuna dentro da economiacriativa do setor literário, que, por desinteresse ou falta de incentivos, não dispõe de espaço para escoar produções poéticas.
Da consolidação dessas ações legítimas e independentes nasceu o Movimento Por Um Rio Capital da Poesia, que sonha em transformar a Cidade Maravilhosa, que tem poesia em seu DNA, em um território literário, onde os poetas possam desenvolver suas obras, onde as criações poéticas sejam valorizadas, onde escritores vivam de seu ofício, onde os músicos recebam cachês, onde os saraus tenham o mínimo de infraestrutura para existir, e consigam, de maneira decente, exercer essa manifestação tão importante à sociedade em sua plenitude, onde todos em todos os lugares da cidade leiam, ouçam, vejam e descubram na poesia um estilo de vida. Eu sonho com um Rio Capital da Poesia.
Gledson Machado é empreendedor cultural e criador da grife Poeme-se